segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Lado Cego (The Blind Side)



O filme é carregado de boas intenções e com um louvável espírito de denuncia diante a falta de oportunidades que muitos jovens afro americanos padecem dentro dos bairros mais marginais dos Estados Unidos. Um argumento bem americano, bastante abordado no cine e que não sei, até que ponto resulta num sucesso fora das fronteiras ianques.

O filme não deixa de ser um drama sensível sobre relações pessoais que tentam ressaltar a importância do fato de desfrutar a família, proteger os que te rodeiam, ter um circulo que te apóie, definitivamente, fatores humanos que se entrecruzam dentro de um argumento onde a conexão entre os personagens são fundamentais, em especial, a atípica relação mãe e filho entre Leigh Anne e Michael, sujeitos opostos pela sociedade.

Além disso, o filme é um veiculo mediante o qual Sandra Bullock se confirma como atriz dramática, por dar corpo e alma ao personagem de Leigh Anne Tuohy, uma endinheirada mãe de família que com pouca facilidade de exteriorizar seus sentimentos. Sem duvida, seu papel em ‘The Blind Side’ se converte em uma das interpretações mais relevantes do ano. Sandra conseguiu o fato de estar duplamente nomeada aos Globos de Ouro desse ano.

Nota 6,75

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Avatar (nao aguentei e fui de novo no cinema)

Fui novamente ao cinema assistir essa grande obra que realmente é um clássico instantâneo, para mim é um dos melhores filmes do seu gênero. Ainda que a história se passe neste mundo de fantasia surpreendente, no fundo o filme nos toca-nos a todos no que diz respeito a humanidade. ‘O mundo esta morrendo’ é a terrível sentença que o personagem de Worthington menciona em sua oração ao Deus dos Na’vi e infelizmente, referindo-se a nós como humanidade e nossa amada Terra. Já que o egoísmo e ambição desmedida do ser humano são a grande causa de terríveis tragédias e perdas. E esta em todos os níveis: destruição de obras de artes, escritos e cidade, até a exterminação de povos inteiros e ecossistemas; simplesmente porque não pensam da mesma maneira ou prejudicam nossos interesses. O ‘fique ao lado, porque agora farei minha vontade’ é parte da tendência inata à arrogância dos seres humanos a medida que eles adquirem poder em seus distintos níveis. Este é, portanto, o tema principal desse grande filme. Grande realmente, uma maravilha da ficção cientifica. Acho que tecnicamente pode ser o melhor filme já feito, como discutido antes mesmo de seu lançamento, simplesmente impressionante, de deixar de boca aberta ao ver esse magnífico mundo novo, que é tão palpável e tão bonito que nos dá vontade que exista pra podermos visitar.

Trilha sonora prodigiosa do mestre Horner, performances dignas em bons personagens que chegam emocionar de verdade. Uma historia para sonhar e refletir. Como já disseram, ‘respeitar o direito alheio, é a paz’.

Pode que às vezes, pareça maniqueísta, ao apresentar vilões representantes de companhias (algo parecido com Aliens ou Terminator, também do mesmo diretor) como seres sem compaixão e dispostos a passar por cima de quem seja, para conseguir seus objetivos, mas muitas vezes a Historia nos deu razão para que isso aconteça dessa forma. Parece ridículo, mas o ‘saia de sua casa, que tenho que usar ela agora para o meu beneficio’, temos visto de maneiras menos agradáveis através dos anos em diferentes partes do mundo. E o herói clássico que chega com uma mentalidade bélica e corporativa, mas o ficar em contato com as tradições e costumes de dito povo, muda sua forma de pensar e se converte em peça fundamental de sua defesa e proteção. Ainda assim, não estou cansado desse herói, que nos faz lembrar e repensar sobre o que realmente é importante na vida e neste mundo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Avatar




Avatar é um filme que combina de forma insólita os três pilares de uma obra prima: entretenimento, arte e educação, tudo em uma aventura de imersão, exploração, ciência e sentimentos.

Na verdade, este filme não é uma historia e sim uma experiência. É algo a ver e abraçar, algo que deve sentir. Algo que ninguém deve perder e não pelo amor intenso ao cine, mas sim pelo amor ao mundo, ao amanha, as pessoas, a vida e as alternativas, no seu lado belo e cruel.
Este tem a forma de uma metáfora cruel, sobre a frágil condição do homem rodeado de tecnologia, representado por um soldado espacial confinado em uma cadeira de rodas; esse personagem, um dos muitos ‘personagens feridos’ do filme, é o único consciente de sua fraqueza. Os outros, sem saber, também estão imobilizados embora de forma ilusórias de veículos, armas e armaduras errantes.

Somente deixando pra trás tudo isso e aprendendo a amadurecer e sonhar de verdade, pode abraçar a natureza e encontrar algo realmente valioso que temos perdido e depois andar de novo.

Sem a pretensão de iniciar um subterfúgio, parece pertinente observar que no cinema tudo já foi dito. O único que permanece aberto e renovável é a forma de contar. E, certamente, a história do cinema é um bom exercício para verificar o antes enunciado.

A principal idéia de “Avatar” é que o primeiro inimigo que temos que vencer somos nós mesmo. Nesse diálogo interno, sobre esta vida e a outra, nessa busca no ‘nirvana’, apenas nós mesmo somos capaz de encontra, metaforizada em ‘Tsahik’. E também ao mesmo tempo, derrotar os preconceitos, simbolizados no filme em batalhas e lutas.

Agora, James Cameron condiciona com seu estilo sublime e magistral, que se não faz parte do imaginário coletivo, de que outras formas podem observar visualmente os recantos da alma? Como deve ser essa viagem interior - as informações sinápticas entre os neurônios -, perfeitamente simbolizados no filme por meio da Árvore de Vozes. Como falar consigo mesmo (Tsahik)?

Sem duvida uma das melhores idéias de “Avatar” é o ambientalismo que promulga: a união dos humanóides com a natureza e animais através das ligações é utópica e ainda bonita. Desejamos que realmente esse mundo existisse. Pessoas que vivem em perfeita harmonia com os animais, que se comunica com eles e os respeitam, tudo conectado e tudo que nasce de Pandora retorna a ela. Inveja dessa raça.

O roteiro previsível é totalmente perdoável depois de tamanho deslumbre.

Nota 9

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Il Mare (Siworae)


Apesar de que ‘Il Mare’ parte de uma premissa fantástica um tanto infantil, e também tem alguns elementos fantásticos inverossímil, é preciso muito pouco pra deleitar todos os sentidos, e pouco mais para configurar como uma madura reflexão, em toda regra, das relações sentimentais e das lacunas emocionais. Esse elemento fantasia nos introduz numa historia de amores impossíveis, que poderia partir de qualquer outro antecedente, talvez mais realista, porem o filme perderia o charme e não seria bem sucedido em sua reflexão sobre a solidão e os sentimentos.

Todo aspecto fabuloso fica em segundo plano, apesar de lançar bons pontos de apoio para especularmos sobre a estranha situação de Sung-hyun e Eun-ju, e sobre sonhos temporários. Como eu disse, apesar da abstração interessante que pudemos embarcar na premissa do filme e sobre alguns incidentes no desenvolvimento da historia, todos os componentes estão administrados pelo componente dramático e romântico; tanto que fica eclipsado; tanto que ‘Il Mare’ poderia ser considerado uma grande obra do realismo fantástico, por nos fazer perder de vista sua natureza fantasiosa e apresentar a historia como algo real que poderia acontecer a qualquer um. Quem diria que ‘Il Mare’ é cinema fantástico, irreal, ficção - cientifica? Quem considera mais real que muita coisa do cine de Hollywood? Acho que é mais fácil, poder trocar cartas com Emily Brontë, do que viver as aventuras de Tom Hanks ou Angelina Jolie, ou um dos quaisquer amores de Sandra Bullock.

Cada cena é um retrato vivido e de requintada beleza, de solidão, de solidão que bate em muitas figuras do filme, e em cada ambiente plasmado. ‘Il Mare’ é um refugio em todos os sentidos: como um filme, para o espectador, como casa, para os protagonistas.

Todo no filmes tem um efeito calmante que atua sobre nós e os personagens.

Como em muitas obras de outros autores orientais (Miyazaki, Kim Ki-duk...) é muito importante a personalidade dos espaços, proporcionando um caráter único, ligado aos protagonistas, algum dos enclaves do filme, que no caso A casa, que oferece aos protagonistas uma reflexão de si e um refugio na sua imagem e semelhança, protegido do mundo, lhes poupam a vulnerabilidade de fechar se simplesmente em si mesmo. ‘Il Mare’ poderia ser uma ‘Casa de Usher’ e não me surpreenderia vê-la desmoronar junto como os personagens.

Nota 9

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Lua Nova (New Moon)



Diante da opinião que tenho sobre o primeiro capitulo da saga Crepúsculo (um dos piores filmes que vi em minha vida), parece uma impostura ou um ato de masoquismo reincidir no tema assistindo a segunda parte da saga, Lua Nova. Não obstante, esta o dever da critica em explorar ou dar uma nova oportunidade a filmes emoldurados numa saga. Pode ser que o material base (nesse caso, literário) não alcance muito, sem embargo casos como os filmes de Harry Potter tem demonstrado que a arte cinematográfica, com seus códigos diferentes da literatura, pode oferecer produtos desnaturados e frios, sim, porém, também algo notável.


A dúvida em torno de Lua Nova fica presente. Será que podem realizar com o material, um filme no mínimo decente? A resposta a essa questão esta no primeiro plano oferecido, desde a primeira frase em off. Essa resposta é um firme e soberano não.

Dissipada essa questão, somente resta tentar realizar uma analise mais fria possível sobre o que nos oferece. A palavra tentar não é gratuita, já que realmente é complicado discernir se estamos assistindo uma tremenda piada ou se os realizadores estão verdadeiramente convencido que seu atentado cinematográfico ao bom gosto esta sendo levado a cabo, da melhor maneira possível.

Claro que poderiam argumentar que Lua Nova, não engana ninguém e nem pretende. A diferença esta em discernir, o que se entende por honestidade. Se quiserem ganhar dinheiro da forma mais rápida, fácil e vulgar, então sim, estamos diante do paradigma da honestidade. Agora bem, se o que pretende é dizer que pretende capturar o ideal romântico adolescente, então, deveriam abrir um debate sobre o que realmente é romantismo.

Evidentemente o amor, a sensibilidade, não é uma ciência exata. Não existe um marco cientifico que defina como alguém deve sentir diante dessas questões e muito menos, tratar de impor um modelo publico adolescente no qual esta dirigido descaradamente o filme. Precisamente, ai esta radicada a falta mais grave cometida, tentar impor sobre o que supostamente seja o amor com o conseqüente prejuízo e desprezo pela inteligência e sensibilidade dos outros.

Poderia falar sobre confusão, erro de referencia, mas a repetição ao longo do filme dos mesmos tipos de frases e atitudes nos traz a idéia de uma intenção a priori. Vejamos um simples exemplo: “Você me da tudo com o ar que respira”. Uma frase logicamente bonita e sensível, que poderia funcionar perfeitamente num drama amoroso como Romeu e Julieta (obra que em vão é tomada como referência). Agora bem, que sentindo tem expressar-la no marco de uma conversa banal? Pretendem que assim consigamos entender a sensibilidade de um vampiro? Para que então serviu o primeiro filme? O resultado é que, longe de emocionante, a frase torna-se, como o tom geral do filme, uma espécie de banalização do sensível, uma forma de degradação, corrompendo e mesmo pervertendo o próprio conceito do amor, reduzindo-se ao nível de um romance de Danielle Steel.

Mas como, não só de palavras vive um cineasta, não duvidam em orquestrar todo um sistema visual em torno de sua busca pela beleza que resulta numa composição kitsch indigesto baseado num conjunto simplista de iluminação e cores que tentam sem sucesso refletir o estado anímico dos personagens. Alem do fatos que os protagonistas acabam por serem meras figuras de passarela numa luta feroz para ver quem é mais atraente. Nada melhor que um desfile contínuo de torsos nus e abdominais marcados, com singulares e ridículos takes em slow motion para mostrar que por trás do macho alfa também existe um coração.

No entanto, existe algo realmente positivo em Lua Nova, e é sem querer, tornar-se o primeiro filme totalmente interativo com a platéia. Se o que acontece na tela não importa ou simplesmente entedia (nada estranho, devido o argumento) temos que prestar atenção na platéia para termos uma diversão absoluta. Gritos e suspiros, desesperada admiração, lipotimias fingidas.

Essa é a magia do cinema, conseguir que um dos piores filmes, transcenda a tela, como uma versão perversa de A Rosa Púrpura do Cairo, para receber o milagre de se tornar um verdadeiro espetáculo, transformando o silêncio da sala de cinema em pouco menos que uma orgástica revolução hormonal. Isso sim, a vergonha não esta, nem se espera, apenas se assoma em sua forma mais cruel, a vergonha alheia.


Nota 1 (pelo abdômen do Taylor Lautner)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Paranormal Activity


Deixando de lado toda a qualidade intrínseca do filme, inclusive os gostos particulares de cada um, têm que reconhecer que Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, diretores de The Blair Witch Project, tiveram a capacidade de oferecer algo novo e refrescante dentro do panorama cinematográfico, um produto que surpreendia pelo risco da sua proposta. Esse foi o filme que revolucionou aparando em um formato que até o momento parecia ser uso exclusivo de documentários, ultrapassava os limites da realidade e da ficção criando uma atmosfera onde o autentico terror era produzido pela inquietação do ‘real’.

O estranho é que devido o êxito da produção (e mais tendo em conta a rentabilidade econômica do mesmo) esse fenômeno demorou tanto a ser usado de forma habitual. O problema esta em que uma vez começado, o processo passou ao oposto extremo, a exploração exagerada do recurso, convertido em algo alheio a própria necessidade argumental do filme e tornou-se algo repetitivo, redundante. Um recurso que esta longe do frescor inicial, começa a produzir sinais de esgotamento pela falta de inovação.

E é que, apesar do que a produção mesmo sugere, não é nada fácil filmar uma historia desse tipo, principalmente porque nesse caso, o que importa antes de tudo nem é a qualidade das interpretações ou a correta elaboração do roteiro, mas sim capturar a essência, que consiga de um modo subconsciente que a ficção se torne uma realidade indiscutível.

Este precisamente é o maior erro de Paranormal Activity, crer que com o uso da câmera na mão e uns títulos explicativos sobre a veracidade dos fatos já é suficiente para submergir o espectador na atmosfera necessária.

Assim, o desenvolvimento do filme se situa nos parâmetros da atualidade, oferecendo o habitual desenvolvimento quanto às situações de aterrorizante e a tensão psicológica que geram entre os personagens devido à incompreensão diante dos acontecimentos inexplicáveis que ocorrem ao seu redor.

Inclusive, apesar dessas premissas poderíamos achar se não um bom filme, pelo menos um bom entretenimento. Porem existe uma deficiência no desenvolvimento dramático dos acontecimentos. Por um lado o uso inadequado de elipses temporais apresenta um abuso de manipulação consciente que deixa o senso de realismo desvirtuado e gera uma compreensão distorcida e parcial dos personagens, o que torna impossível uma empatia completa e desativando a credibilidade de suas ações.

O que uma produção desse tipo precisa é essencialmente sutileza, recurso que aparece acertadamente em alguns momentos no filme, especialmente no uso do som e deixar convenientemente o elemento aterrorizante sempre ameaçador e preocupante. Apesar de tudo isso, fica reduzido a quase nada quando os responsáveis pelo filme decidem que não há nada como um explicativo e desnecessário golpe de efeito final que pretende resolver a trama e produzir um impacto sobre o publico. Recurso que me parece simplista, tendo em conta que o argumento é incapaz de gerar surpresa para que tenha assistido filmes nos últimos anos.

Paranormal Activity, torna-se uma experiência fracassada que em momentos beira o grotesco e a auto-paródia quando suas pretensões ficam anuladas pelo mal uso de seus recursos. Sim, pode ser que não tenha interesse transcendental em sua realização além de mero divertimento, uma brincadeira pra passar o tempo. O mesmo se pode dizer de Assombrações do Discovery Channel, ambos são divertidos e tem o mesmo valor cinematográfico: nada.


Nota 3

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Trick 'r Treat


Interessante filme de horror que utiliza o recurso pouco visto dentro do gênero de interconectar historia entre si ao melhor estilo Crash, Amores Perros ou Pulp Fiction.

A estratégia surte efeito, porque pouco a pouco vamos vendo como desde perspectivas diferentes nos vão contando um relato que vai entrelaçando diferentes historias que se intercalam em determinado tempo e espaço.

O contexto da situação é a noite de Halloween, ali a narração começa a seguir diferentes personagens que pouco a pouco vai se conectando entre si, dando sentido ao que ‘a priori’ pareciam ser historias que nada tinham a ver entre si.

Um dos méritos do filme são a sua montagem e direção de arte ambientada esteticamente de maneira gótica e lúgubre. A brilhante atmosfera noturna de um povoado festejando o Halloween, onde nas ruas se disfarça o horror (camuflando assassinatos reais) e onde nos arredores dessa localidade ocorrem fatos misteriosos que absorvem a atenção do espectador.

Mas também temos uma excelente fotografia e uma asfixiante trilha sonora para acompanhar corretamente o clima de tensão e mistério, aparecem na tela bons efeitos especiais quando chega o momento de mostrar o sobrenatural e uma vital dose de sangue e truculência para aqueles que necessitam de hemoglobina num filme de horror.

Por fim, uma grata surpresa dentro do gênero, um filme que mescla slasher, vampirismo, lobisomens e espíritos de maneira fluida, sempre emoldurada de toda parafernália que envolve o Halloween.


Nota 7,8

A Trilha (A Perfect Getaway)



Estamos diante de um desses filmes que ate o ultimo terço resulta super previsível ou ao contrario um entretido filme de suspense, mas ignorem a sinopse, não busquem ver o trailer, apenas assista-a, assim poderá julgar se é entretida e poderão estar de acordo comigo (ou não) que é difícil surpreender quanto à trama e os giros de roteiro, mas o que nos faz esboçar um sorriso de orelha a orelha é Steve Zahn (delicioso, como nunca).

Omito a propósito qualquer referencia quando a singularidade dos papeis dos outros atores encarregados de manter o motor funcionando, as cenas são linda gravadas no Hawai, Jamaica e quase em sua totalidade em Porto Rico e por ai estão Milla Jovovich (apenas linda como sempre), Timothy Olyphant e Chris Hemswort (o cara que vai encarnar Thor,o Deus do Trovão, no esperado filme a cargo de Kenneth Branagh) e juntando tudo isso, resulta num filme divertido.

Nota 6

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Infestation


Cooper perdeu a mãe recentemente e tem uma inconsistente vida laboral, sempre chega atrasado e tenta as mesmas brincadeiras de costume, mas sua chefa esta cheia de seu comportamento e decide despedir-lo, momento no qual se escuta um estranho e penetrante som que os fazem levar as mãos aos ouvidos com o rosto estampando dor e a tela escurece.

Na seguinte cena vemos o escritório repleto de estranhos casulos cobertos com uma espécie de teia, um dos quais esta Cooper, que logo recupera o conhecimento e olha assustado ao seu redor e sem tempo de assimilar a situação se vê atacado por um gigantesco escaravelho com dentes e com pinças ameaçadoras e envergadura similar a um São Bernardo do qual consegue escapar para logo em seguida ser atacado por outro bicho que esta pendurado no teto e que cai em suas costas de surpresa.

A partir desse momento, com a aparição de outra variante alada dos bichos que atuam agarrando as pessoas como se fossem águias e levando-os, nas particularidades do grupo de sobreviventes e a relação que estabelecem entre ele e outros grupos que vão encontrando, temos uma modesta, entretida e divertido filme B com todas suas regras, na que a ação não decai e nenhum momento, com um desenvolvimento da trama na comedia e no terror em partes iguais (suave, nem comedia descerebrada, nem muito gore), com sua correspondente historia amorosa, suas ótimas gags (tanto no nível do dialogo, como no visual), com uns efeitos especiais e trabalho autoral digno.

Ray Wise entrega carisma e tem a seu cargo as melhores cenas e Chris Marquette no papel do filho deste, é o eixo da historia (relações familiares, amorosas e de autoconhecimento que desemboca no enfrentamento final).

Gags para recordar: solipsista, o encontro com “Lucy” e a confissão de Cooper a sua amada se caso for picado.

Nota 8

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

9 - A Salvaçao


‘9’ esta sendo promovida como um dos melhores filmes de animação dos últimos tempos, aparando-se na fama de um de seus produtores, Tim Burton. A verdade é que qualquer fã de animação vai ter um momento interessante.

Esteticamente a escuridão do ambiente, a qualidade da imagem e certa amargura de fundo, aportam certo valor.

Talvez o mais significativo seja a alegoria que se esconde atrás de cada um dos personagens: 1, encarna o valores do passado (igreja, aristocracia), o medo da mudança e a individualidade extrema; 2, a amizade; 3 e 4, representam o par e o impar, irmãos na cultura e no livresco; 5, o limite, o olhar dividido entre os valores do passado (1) e do futuro (9); 6, a lucidez da loucura e do obscuro; 7, o feminino, o afortunado, ousado e aventureiro; 8, a força bruta sem raciocínio e finalmente 9, o ultimo, o jovem, o final de um ciclo. Esse tratamento metafórico alcança outros dois pólos da ação: o cientifico (encarnação da fonte da criação humana) e A Maquina (como representação da fonte criadora do artificial). Muito mais se poderia dizer de tantos símbolos presentes na caracterização dos personagens.

Até aqui esta o melhor do filme. Uma pena que a simplicidade do assunto inicial: um mundo apocalíptico ameaçado por monstros de metal, que o homem havia criado como armas e acabou tornando-se os extintores da humanidade. O roteiro tem falhas, como estar num momento no deserto e no outro num laboratório, a história não tem nada de original, nem no desenvolvimento, nem no desenlace. Muita ação, alguns efeitos, mas esse filme esta há anos luz da maturidade e profundidade da animação que são feitas em outros países.

Nota 5

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Distrito 9 (District 9)


Duvido muito que o jovem Neill Blomkamp com somente 29 anos, chegava a sonhar com “Distrito 9” quando quebrava a cabeça realizando efeitos especiais para series como Smalville e Stargate SG-1. Mesmo não podendo mostrar sua genialidade nessas series, podíamos ver um esboço de talento, ao menos nos efeitos, na famosa campanha do Citroen C4 robótico. Todos dão um exemplo que como podemos mesclar criações digitais em ambientes reais.

Sua carreira avançava pouco a pouco, quando em 2007 realizou a trilogia de curta de Halo, o famoso jogo eletrônico, chegando a ganhar um premio no Cannes Lions de 2008. Então apareceu Peter Jackson com o mesmo sonho de Blomkamp, realizar o live action de Halo.

Trabalhou duro nisso, mas os problemas com as distribuidoras e com a Microsoft, dona dos direitos de Halo, fizeram Peter Jackson desistir de seu tão esperado filme. Mas o sonho de Blomkamp não havia terminado, entre encontros dói vendendo uma idéia que ele tinha tido anos atrás. Em 2005, Blomkamp havia dirigido e feito os efeitos digitais de um curta chamado Alive in Joburg, um documentário falso sobre refugiados extraterrestres em Johannesburgo. A idéia lembrava velhos filmes como Alien Nation, mas Peter Jackson sentiu interessado pelas grandes possibilidades que a idéia oferecia.

E por fim, temos “Distrito 9” disponível. Gerou grandes esperanças e a campanha de marketing viral tem sido esplêndida, fazendo que campanhas milionárias sejam sucumbidas ao bom e velho boca a boca.

Apesar de tudo que já foi dito, o melhor é que o filme é magnífico. Longe de todos os clichês de ficção cientifica e um roteiro mais coerente. Um filme que alem de entreter, aprofunda nos males endêmicos da raça humana, já que, depois de vinte anos na Terra, os extraterrestres se humanizaram e isso torna a dor muito mais evidente pelo tratamento que recebem. Algumas cenas de ação chegam a ser muito pesada em alguns momentos, mas a qualidade final alivia o fardo.


Neill Blomkamp esta magnífico na direção. O toque documental ficou ideal no filme, sem pesar ou irritar os movimentos da câmera. Considero um grande acerto, que quando não seja oportuno, Neill muda de plano para mostrar a seqüência desde uma melhor posição, sem estar atado ao tipo que leva a câmera no ombro, graças a isso, o momento que o filme deixar de ser um falso documental é quase inócuo.

Os atores são desconhecidos e estão perfeitos. É surpreendente a atuação de Jason Cope, o desenvolvimento de seu personagem através do filme é sensacional, passando de uma antipatia inicial ate a pena no final.

Por isso é um filme que será cultuado, filme que revitaliza e engrandece a ficção cientifica.

Fazia anos que não via um sonho se tornar realidade, por fim.

Nota 10

domingo, 6 de setembro de 2009

Up - Altas Aventuras


Pixar novamente nos trás uma obra prima inesquecível do cinema de animação e nesse caso, seu melhor filme sem dúvida. Pura imagem, puro simbolismo, puro cinema.

“UP” narra a historia de um ancião cuja vida foi compartilhada com uma intrépida mulher ansiosa por aventuras que não puderam viver antes que a morte dela os separasse. Agora, Carl Fredricken quer demonstrar a si mesmo que não desperdiçou sua vida e para isso empreenderá a viagem de sua vida... Com a companhia de um menino muito especial chamado Russel. Unidos pelos mesmos sonhos de infância, Carl e Russel se lançam a explorar a América do Sul.

As imagens iniciais resumem perfeitamente o que chamamos de cinema, sem palavras as imagens dizem tudo. O filme emprega a animação 3D com acertos e uma originalidade que somente Pixar nos surpreendeu em varias ocasiões, destacando Ratatouille e Wall-E. O sentido de humor é vislumbrado por todas as partes com grande imaginação de personagens, cenas e historia. Tem momentos estupendos por todo filme: a divertida cena e tocante cena que Carl e Ellie se conhecem, as hilariantes aparições de Kevin e Dug, as conversas dos cachorros com colares tradutores e a simplesmente espetacular decolagem da casa do protagonista. Também é preciso destacar o singular antagonismo, um vilão poderoso e carismático, bastante ambíguo e dinâmico diferente do que a Disney costuma oferecer.

Humor, ternura e mensagens plasmadas em imagens antes de palavras elevadas a potência máxima. Talvez essa seja a melhor mensagem da Pixar, ainda que não seja a primeira vez que nos mostra, mas sem dúvida, aqui tem uma força maior: nunca se render, nunca desistir enquanto podemos lutar e nunca deixar de sonhar. Como em um momento Guillermo Del Toro disse: ‘Uma pessoa, por mais que envelheça, pode seguir jovem no intelecto e sentir-se viva durante toda sua vida’. Nunca foi mais bem dito, esse filme é um perfeito reflexo disso, uma representação de imagens espetaculares sem palavras vazias. Juventude e sabedoria, como ingredientes para superar os maus hábitos.

E como vemos no final do filme: sentados, a criança e o velho sobre o meio fio tomando um sorvete e ao lado um dirigível estacionado (a metáfora de estar disposta a outra viagem em busca de aventura), pois a batalha da felicidade não é um troféu esquivo. Não é questão de ler livros de auto-ajuda para alcançar a felicidade, mas sim a resolução e imaginação para sentar-la ao seu lado

Temos que viver de pequenas utopias.

Nota 10

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

G.I. JOE: A Origem de Cobra - G.I. Joe: The Rise of Cobra (2009)


Buscar profundidade no roteiro de filmes baseados em exitosas linhas de brinquedos é inoportuno, podendo resultar quimérico. Transformes, Masters of Universe e os próprios G.I. Joe são brinquedos cujos argumentos se baseavam num simples confronto entre as forças do bem e do mal, assim que, quaisquer leituras um pouco mais alem beira o ridículo.

Portanto não é estranho estabelecer que o roteiro do novo filme de Stephen Sommers não é mais que uma sucessão de ataques e contra ataques para conseguir uma perigosa arma de nanotecnologia entre os citados G.I.Joe’s, os bons e uma embrionária organização terrorista chamada Cobra, os maus. Esse raso e simples desenvolvimento somente será perturbado por algum ou outro flashback explicativo sobre o passado de alguns dos personagens, também raso e simples em sua totalidade.

Dito isto, chegamos a uma nada complexa conclusão que o único valor dos G.I. Joe esta na vontade de levar a ação num apogeu constante através de impactantes e vistosos efeitos digitais, objetivo que consegue de forma fácil, mas que me faz perguntar se para conseguir-lo é necessário renunciar um roteiro minimamente inteligente.

Como era de se esperar, a ação mistura sem interrupções façanhas bélicas, perseguições, explosões, arte marcial e prodígios tecnológicos, ornamentando vistosamente todos os elementos através de um trabalho técnico inquestionável que talvez canse em algumas cenas (como nas cenas do deserto ou sob a água) até ponto de assemelharmos a uma tela de vídeo game de ultima geração ou um fragmento de um filme em animação 3D.

Conclusivamente, o diretor fez um produto de entretenimento ligeiro, infantil e esquecível, apto para adolescentes sem nada pra transcender e que dependendo de sua bilheteria esta destinado a gerar varias sequências.

Nota 5

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Brüno




Brüno - Deliciosas Jornadas Através da América com o Propósito de Deixar Machos Heterossexuais Constrangidos na Presença de um Estrangeiro Gay Vestindo uma Camiseta Furadinha

Como descrever a euforia? Como contar o prazer supremo? Como aplicar uma lógica a milhares de risadas vividas? Não se pode.
Posso contar o fato. Ri mais de duzentas vezes durante o filme e gargalhei umas 100, aplaudi umas 10 vezes. Um amigo e eu ovacionamos ao término do filme como se tratasse da estréia em um festival de uma obra prima.
Não era um festival, mas Bruno é uma obra prima. Uma obra prima absoluta, indiscutível, avassaladora. Um monumento ao riso que me faz incapaz de lembrar milhares de situações e gags que me fizeram quase perder o sentido. Porque sim, te faz perder os sentidos, com sua descomunal provocação, por ser politicamente incorreto, com sua bestial vergonha alheia, com sua coerência argumental e estilística.

Bruno é a obra de um gênio. Não sei se o gênio é o sensacional Larry Charles ou se é somente Sacha Baron Cohen. O que fica claro é que o segundo não é somente um ótimo ator, mas também um grande roteirista. O que fica claro é que atrás de Ali G e Borat, esta o melhor cômico do século 21. Alguém que consegue elevar a comédia suja à categoria de arte. Alguém que consegue que seja impossível dar explicações. Alguém que consegue gerar o prazer absoluto. Alguém que consegue que não passamos mais de 20 segundos sem cairmos na gargalhada.

É fácil assistir Bruno e ficar bobo ao ver cenas sexuais, brigas e linguagem vulgar, mas se presta atenção vera que é uma brutal critica ao mundo da moda, dos homofóbicos, aos fanáticos religiosos, ao exercito, aos terroristas, os pais que fazem tudo pra seus filhos estarem em anúncios publicitários e etc.

Escandalizara-te ou não, mas hoje não existe nada e ninguém tão critico e hilariante como Bruno. Dentro de cada sketch existe uma premeditada e profunda critica.



nota 10

quarta-feira, 29 de julho de 2009

True Blood





A fascinação pela morte, a sensualidade do sangue, a fascinação em convertermos em sobre humanos. A figura do vampiro é um poliedro de tantas faces que sempre atraiu a atenção de um grandioso público, e tem sido uma fonte inesgotável de recriações em todas as artes.

Sem embargo, toda formula se esgota, e já estávamos sofrendo da monotonia do formato de series como ‘Buffy’ ou ‘Blood Ties’, na qual o tema do vampiro é uma simples desculpa para colocar uma loira sexy que domina artes marciais e ocultismo barato.


Em ‘True Blood’, por fim, temos um novo sopro, uma fresca perspectiva que deixar satisfeito tanto os fanáticos do tema como os iniciantes que se aproximam buscando uma historia de intriga, amor e aceitação social.


Ambientado num pequeno povoado sulista de Luziânia, a serie apresenta como vivem as pessoas depois da revelação da existência de uma espécie que viveu oculta entre eles durante anos: os vampiros, que decidem se revelar graças a uma empresa japonesa que criou uma bebida de sangue sintético (Tru Blood) que pode facilitar sua integração. Mas a aparição de um vampiro na comunidade começa a semear a desconfiança ante o desconhecido, e ainda mais quando uma doce garota do povoado, Sookie Stackhouse, se envolve com ele numa relação amorosa mal vista por todos, e onde começa a suceder no povoado misteriosos assassinatos.

Metáfora da segregação racial sulista ou simples relato fantástico?


É curiosa a fascinação que Alan Ball (o criador) sente pela morte, ainda que ‘True Blood” esta longe de sua criação anterior (Six Feet Under, que se tornou uma série cultuada), mas que volta incidir sobre o aspecto mórbido da morte, o não-vida nesse caso. Mas em ‘True Blood’ tudo tem uma matiz de crueza e humor negro que faz qualquer passagem da trama ser apenas uma epifania da verdadeira natureza humana.


Nota 10

A Vida Secreta das Abelhas (The Secret Life of Bees)


No respeitável ofício da apicultura, existe um momento que tem que deixar os zangões repousando na colméia e cobrir-los antes de elaborar o delicioso mel que dali pode sair. Nesse momento, nem o artesão sabe o que podem fazer as abelhas. Tal segredo, que somente sabem esses himenópteros é comparável a vida que levam as três irmãs Boatwright que são negras, a desequilibrada May (Sophie Okonedo), a antipática June (Alicia Keys) ambas dependentes da mais velha, amável, sabia e maternal August (Queen Latifah). As três vivem numa casa pintada com um chamativo rosa caribenho em Tiburon (Carolina do Sul), sem que os acontecimentos que antecedem a assinatura da Lei dos Direitos Civis de 64 afetem suas vidas, baseada na calma do lar e o amor ao trabalho da apicultura. A chegada de uma garota branca de quatorze anos, Lily (Dakota Fanning) e sua ‘empregada’ Rosaleen (Jennifer Hudson) pedindo abrigo, precipitará os acontecimentos posteriores ate saber o motivo pelo qual a jovem chegou à suas vidas e não é por casualidade. As Boatwright são as abelhas que vivem numa vida plácida sem que nada lhes aflija ou que se intrometa em sua ‘colméia’.

Mas voltando a historia de Lily, quando escutamos no seu novo ambiente cheio do universo feminino que ‘nenhuma abelha que te ama quer te picar’, quando esta aprendendo a trabalhar com o mel das abelhas, compreendemos a mensagem desse bonito filme que sem complicar com denuncias racistas, prefere através do olhar de uma adolescente dizer a verdade.

Dakota consegue convencer em sua personagem, seu ideal de uma vida cheia de boas intenções, sem que isso pese a mão em um melodrama funesto. De todas formas reafirma o ditado: Nunca deixe de sorrir nos momentos mais difíceis, porque alguém pode apaixonar-se pelo seu sorriso.

Todo o demais no filme tem um fundo histórico que em ocasiões fica em primeiro plano em alguns dos momentos mais dramáticos do filme (o racismo, a relação de Lily com seu pai, etc.) numa comparação com a vida secreta das abelhas, nos dando uma verdadeira lição de trabalho comunitário, sem distinção e buscando a felicidade através da fabricação do mel. ‘Mel” que seria um termo que usaríamos muitas vezes pra descrever algumas passagens interessantes de nossa vida, mas que algumas vezes deixamos de lado.

‘Alguém nos picou. ’

Nota 9

domingo, 28 de junho de 2009

Presságio (Knowing)


Como esse filme trata de profecias também soltarei uma: Alex Proyas no futuro merecera a mesma consideração que hoje temos por Roger Corman ou de Terence Fisher, isto é, estará dentro de um grupo de diretores de quase sempre o mesmo gênero e quase sempre os filmes são medíocres e contem um toque pessoa indiscutível e alguma chispa de genialidade que para alguns fãs mais motivados compensam os convencionalismo e defeitos de suas obras. A obra prima de Proyas será “Dark City” e todos os outros filmes estarão bem abaixo. Num dos postos mais baixo encontramos ‘Knowing’ cuja sinopse é bem sugestiva: uma escolha celebra o dia de inauguração oficial enterrando uma cápsula com desenhos que os alunos imaginam como será o mundo cinqüenta anos depois, data que os sucessores nas aulas abrirão novamente a cápsula. O simpático mundo do final dos anos 1950 esta bem recriada, com uma leve ironia (a professora bem penteada e vestida impecavelmente, a cerimônia com bandeiras ao vento e a musica de Holst tocada por uma banda) e também conseguem uma atmosfera de expectativa e mistério. Logo chegamos ao futuro (nosso presente) e temos Nicolas Cage com seu papel de pai bêbado em crise existencial pela sua viuvez e ai o filme desanda, a partir desses minutos o filme parece um balão furado que fica desgovernado e vai ficando sem pressão ate cair. ‘Knowing’ tem um roteiro desastroso que tenta conciliar vários gêneros, todos muito ao gosto do publico norte americano: a exaltação da família tradicional, o cine catástrofe e o terror e a ficção científica. A psicologia dos personagens é inconsistente e suas relações (pais-filhos, fraternais, amistosas, docentes - as cenas de divulgação cientifica são vergonhosas) são apresentadas da forma mais inverossímil, falsa e convencional (convencional como o pior do cine norte americano). Proyas sabe criar atmosferas, mas caracteriza os personagens de forma vergonhosa, seu sensacionalismo é tão conatural ao seu estilo que não sei se o culpo ou elogio, porque são momentos de efeitos (normalmente em forma de sustos ou catástrofes) que mostram a ruína narrativa do filme. Sem eles ‘Knowing’ seria um campo de ruínas.

Sobre tudo, me interessa descobrir nesse filme algo que ultimamente reparo em muitas obras estadunidenses: não só o reflexo de sua convicção ou intuição de sua mudança de sensibilidade ao religioso. EUA parece que deixou de acreditar em Deus ou ao menos, sua religiosidade não tem nada haver com há de alguns anos atrás. Agora a Bíblia é mais um baú de extravagantes profecias e superstições variadas, não um guia moral nem um deposito de certezas infalíveis. Desapareceu a fé inabalável na proteção divina a America, os anjos otimistas e patriotas norte americanos (de fato, aqui Deus não só não abençoa a America como a destrói por completo), já não são o povo elegido e veem sinais do final do mundo em tudo: o aquecimento global, o terrorismo internacional, os acidentes aéreos, as crises de família tradicional.

Resumo, nossa sociedade segundo os roteiristas de Hollywood esta em profunda decadência, Deus não existe, a Bíblia esta equivocada e o planeta têm as horas contadas.

Resta-nos confiar nos extraterrestres.

Nota 3

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Arrasta-me para o Inferno (Drag me to Hell)



Num roteiro escrito por Sam Raimi e seu irmão Ivan Raimi e na falta de Bruce Campbell temos Alison Lohman como protagonista, temos a historia que conta a luta de Christine Brown, uma empregada bancaria que é amaldiçoada por uma sinistra anciã chamada Sra. Ganush quando ela rejeita uma proposta de terceira extensão da hipoteca de sua casa, com isso ela começa a ser atacada primeira pela velha e logo por forças demoníacas que pretendem levar ela para o inferno, afetando seriamente sua integridade física e vida social, assim tendo que buscar ajuda profissional.

17 anos depois de “Evil Dead 3”, Raimi volta a nos presentear com uma hora e meia de pura delicia na qual desfrutamos como locos com dita saga que desde seu primeiro filme vem sido imitado e Raimi faz um ‘back to basics’ com essa horripilante e divertida jóia que demonstra que esse homem se preocupa com seus fans (especialmente os de ‘Evil Dead’).

Como não podia faltar, voltamos a encontrar com o velo Oldsmobile Delta 88 amarelo de 1973, utilizado por Raimi em todas suas produções (menos em ‘Rápida e Mortal’), também vemos Emma Raimi como a filha da velha e a Henry e Lorne Raimi.

Parece que o papel de Alison Lohman estava previsto pra Ellen Page interpretar, mas ela saiu de ultima hora do projeto. Alison Lohman às vezes esta desorientada como personagem principal onde não ficam muito claro suas virtudes ou defeitos ante uma ou outra situação, ficando muita a deriva em algumas cenas, mas não creio que seja pela má atuação, já que o tema não é um produto de muita imaginação e se nota um roteiro não muito inspirado onde existe muito lugar comum. O fato de ser um tanto previsível muita das ações do enredo limita o resultado final.

Recomendável.

Nota 8

sábado, 9 de maio de 2009

Star Trek 2009


Épica, veloz, magnética, absoluta, stefhany... Essa é a perfeita descrição do novo filme de Star Trek, filme que reinventa a saga através de um pulso narrativo perfeito que não da um minuto de fôlego para o telespectador. Espectador que se vê numa armadilha de duas horas de uma autentica tour de force visual, porque se tem algo que admirar nesse filme é seu aspecto técnico, seja pela trilha sonora (magnífica, que se ajustam perfeitamente as imagens) ou pelos efeitos especiais (os melhores no panorama atual), montagem, fotografia, etc...

Uma coisa, não sou um trekkie, sempre gostei mais de ‘Star Wars’, a coisa é que à margem de tudo isso esta J.J. Abrams, que é um cara que respeito bastante apesar de ter feito ‘Cloverfield’, sabe reinventar e ressuscitar uma franquia que parecia morta e enterrada e faz bem. Um filme de aventuras de verdade, sim é ficção cientifica mas é controlada. Assim cria uma historia solida que continua e recomeça a saga.

As interpretações estão corretas, ainda que podemos destacar o Spock, Sylar consegue se desvanecer e logo esta Eric Bana que esta irreconhecível em alguns momentos, ainda que ao falar notamos ele, mas o faz bem. Os efeitos especiais sublimes e isso deveria servir de lição aos filmes que nessa época busca uma boa bilheteria. O ritmo é frenético, as duas horas passam rápido, porque alem da ação a historia se desenvolve fluidamente, igual que os personagens que vai desenvolvendo (não muito, não esperem que seja o mais realista do mundo, tendo em conta no que se baseia).

Se queremos comprar os caminhos que foram seguidos ultimamente Star Wars e Star Trek, temos que ter muito em conta, porque com esse novo inicio promete e muito. Dou boa nota porque merece, um verdadeiro filme de aventura, que tem ação, piadas, historia interessante, como nos velhos tempos.

E Leonard Nimoy é genial e a trilha sonora de Michael Giacchino também (nossa, como acompanha cada cena) que inclusive me emocionou.

Ótimo filme com ar de nostalgia.

Nota 9

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O Grupo Der Baader (Der Baader Meinhof Komplex)


O filme narra mais de uma década do RAF na Alemanha, ainda que com extensão em todo o mundo, um grupo terrorista que atuou no final dos anos 1960 e 1970. O filme conta sua origem, como surgiram numa época tumultuada, cheia de protesto estudantil, atentados, repressão policial. E sim, é terrorismo, porque violência gera violência, assim é demonstrado enquanto transcorre o filme, quando uns jovens aparentemente desocupados, ou seja, preocupados com a ‘paz’ mundial, começam executar uma série de ações. Trata de aprofundar em seus princípios e entender o processo revolucionário desses movimentos e ver seus componentes humanos.

O filme às vezes é cru e incomoda ao mostrar o comportamento de libertinagem de alguns membros da facção, o filme é um retrato das misérias desses fanáticos motivados pelo espírito de maio de 68, libertadores de uma opressão que considera intolerável.

O diretor imprime ao filme um ritmo que acelera e freia segundo o interesse e assim consegue cenas memoráveis como a manifestação contra a visita do Xá da Pérsia. Com muito dinheiro por trás e com duas horas e meia de duração, o filme é quase um documentário, peca por certo didatismo que rompe às vezes um pouco o ritmo da narração, mas são necessários para nos apresentar os fatos.

Andreas Baader é um ativista incendiário, raivoso, o típico anti-sistema que atua antes de pensar e Ulrike Meinhof é a teórica, no principio dedicada a sustentar ideologicamente o grupo e logo se entregando corpo e alma para a luta armada, ainda que tivessem que lidar com freqüência com as contradições que se produziram a força entre o espírito da teoria e a guerra anticapitalista propriamente dita.

Gostei como mostraram a gestação, evolução e ruína do grupo terrorista e as implicações que tiveram com outros grupos internacionais, mas decai na hora de mostrar a parte contraria a reação do Estado e a dos políticos alemães para deter a atividade do grupo terrorista e senti falta de certa critica na hora de mostrar o processo da repressão aos membros do grupo (sem duvida gostariam de colocar-los em camisa de força, mas os produtores não gostariam de se meter em semelhante problema)

No plano técnico sobressaem, os tiroteios, perseguições e outras cenas de ação estão magníficas, todos os atores são sensacionais, fotografia ótima, edição de arte idem e uma deliciosa trilha sonora. Definitivamente uma obra séria e rigorosa.

Nota 8,8

terça-feira, 28 de abril de 2009

Camino


Um drama mágico, construído a partir da trágica e real historia de uma menina membro da Opus Dei que faleceu de câncer aos 11 anos de idade e que atualmente se encontra em processo de beatificação.

Um dos mais belos filmes que vi nos últimos anos, a aspereza e a dureza choca com as coisas boas que a vida nos oferece. É admirável a atitude de Camino frente a sua doença e seu sofrimento, mas mais surpreendente é o fanatismo de sua mãe e dos membros da Opus Dei.
O poderoso jogo de imagem deslumbra o espectador e não faz cansar em nenhum momento dos seus 143 minutos. É difícil definir um filme, mas diria que é um canto a vida, uma reflexão sobre a vida e a morte, que utiliza o fanatismo religioso da sociedade. Toda essa idéia foi plasmada com perfeição por Javier Fesser que nos surpreende com essa obra prima. A equipe técnica faz um trabalho excepcional, com efeitos especiais perfeitos unidos a uma montagem notável. A fotografia ilumina a vida e escurece a morte, a trilha sonora sobressai, cria um coro celestial que se relaciona com os personagens e intercede em suas vidas. O roteiro suporta a carga emocional dessa historia cheia de luz, mas às vezes de sombras, é muito contraditória.

Vale destacar que o filme dirige seus ataques diretamente a Opus Dei e não contra a igreja católica em geral. Contra sua maneira de ver as coisas, sempre colocando culpas nos seus adeptos somente pelo fato de existir e levando a um fanatismo religioso extremo dificilmente compreensível inclusive pra os crentes que estão de fora.

Sublime, maravilhosa, triste, dura e de uma beleza tremenda. Talvez esteja exagerando, talvez não entenda de cinema, mas entendo dos sentimentos que foram produzidos ao ver-la.



"¿Quieres que rece para que tú también te mueras?"/span>


Nota 10

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Anjos da Noite 3 - A Rebelião (Underworld 3 - Rise of Lycans)


Vou enumerar os motivos pelos quais consideramos seriamente a opção de entrar numa sala de cinema para assistir um filme e gastar o tempo quando poderíamos desfrutar de outras opções:

-porque desfrutamos de uma tarde divertida, conseguindo por uns instantes esquecer o nosso cotidiano.

-porque consegue que as imagens nos comovam, saindo dessa forma com tranqüilidade da sala.

-porque serve de lição em certos aspectos da vida, conseguindo nos ensinar sobre as questões que ate o momento se mostrava como pouco explorada.

-porque consegue que reflexões sobre tudo daqueles lugares que se configuram em nossa psique nos fazem finalmente humanos.

-porque nos informa sobre acontecimentos recentes ou distantes que afligem o ser humano desde que o mesmo seja merecedor dessa nomenclatura.

-porque conseguem observar a realidade sobre o que nos rodeia desde outra visão, outro ponto de vista, dando um significado distinto a algumas interessadas opiniões predeterminadas pelas mais altas instâncias.

-porque consegue que seus sentimentos se mostrem de uma maneira que somente a arte pode enaltecer, fazendo que se sinta bem, reconfortado.

-porque se priva de uma massa acrítica sobre o que realmente tem importância nessa vida, transitando pela mesma com uma cegueira crônica.

-porque te ensina coisas que há muito tempo deveria ter aprendido.

-porque fala e disserta sobre tudo aquilo que na verdade tem importância nessa vida. Como a amizade, o amor, a inveja, o egoísmo, tudo isso levantado a partir de uma honestidade e credibilidade, sem que haja uma deturpação.

-porque consegue despertar todos os neurônios que ainda permanecem à espera de um estimulo suficientemente poderoso.

-porque (insira seu motivo).

Se esse filme não cumpre com todos os requisitos, porque perder o tempo num dia dedicado ao ócio depois de outra entediante semana.


Nota 2

domingo, 12 de abril de 2009

Feast 3 - The Happy Finish


Começa onde acabou Feast 2, com os sobreviventes refugiados no telhado, esperando pelo eminente ataque dos lascivos monstros e dura pouco mais de 70 minutos, já que Feast 3 é apenas a segunda parte de um longo Feast 2.

Depois da surpreendente primeira parte e da segunda bem descerebrada, chega a terceira, um desproposito cheio de sangue sem cessar mas sem o humor que me agradou e surpreendeu nas anteriores da trilogia, apenas um par de cenas tem o estilo do primeiro filme, mas no mais do mesmo, aqui tudo é incoerente, exagerado, muitos mutilamentos desnecessários, muito sangue derramado,etc...


Um produto que somente quis aproveitar da energia de Feast inicial, mas não sacia a vontade de rir e nem desfrutamos o humor negro que poderia ter alguma das cenas de gore das que desfrutamos na primeira parte

O melhor é o final.

Nota 3,7

sábado, 11 de abril de 2009

Monstros Vs Alieniginas (Monsters Vs Aliens)


O cinema que nasceu quase como um espetáculo de barraca de feira em algo mais de 100 anos de vida conseguiu superar sua modesta origem e elevar sua categoria de sétima arte, elaborando uma linguagem mais artística com suas imagens. Mas nunca deixou de lado a magia e a surpresa quase infantil e tem se caracterizado por contínuos avanços técnicos para seguir surpreendendo e atrair os espectadores à escuridão de suas salas.

Primeiro foi o cine sonoro, logo o colorido, o cinemascope, mas tarde sistemas de projeção como o Tod-ao, o Dolby e os espetaculares efeitos digitais dos últimos anos e inclusive houve algumas tolas e fracassadas tentativas com o cine 3D. Mas é certo que nos últimos anos a melhora dos sistemas domésticos de TV, DVD, Home Cinema e a pirataria reduziram o numero de espectadores nas salas de cinema e foi necessário tirar um coelho da cartola por parte da indústria do cinema para não acabar na sarjeta. O coelho parece que será nos próximos anos o cine 3D e se esse é o futuro do cinema, que seja bem-vindo, porque tecnicamente estão conseguindo, os óculos não são incômodos e o resultado final é surpreendente e divertido.

Dessa maneira, um filme de desenhos animados como esse com uma historia de amizade e superação das diferenças, com numerosas e fáceis homenagens a filmes clássicos, cheia de momentos cômicos que poderia resultar numa essência bastante convencional, bem na linha que a Dreamworks tem oferecido nos últimos anos, transcende a mediocridade graças à perfeição do efeito 3D. Evidentemente, não é uma obra prima, mas nesse novo sistema, supõe que agora entra numa nova dimensão a indústria do cine

Nota 8,5

Feast 2 - Sloopy seconds


Quando temos um produto tão original e divertido como ‘Feast’, o que menos desejamos é a ameaça de materializar-se uma seqüência. O pior é quando isso se torna realidade e feita pelo mesmo diretor, se realizar seqüências desnecessárias é um exercício de desvirtuação, quando feita pelo mesmo diretor não converte somente em um ato fútil como num exercício de sadomasoquismo.

Felizmente o tal John Gulager parece ser consciente disso e longe de oferecer mais do mesmo, decide que a melhor maneira de realizar uma seqüência é rompendo os códigos da primeira parte e oferecer um espetáculo diferente de sua antecessora. Justamente isso é o que acontece em ‘Feast’, um exercício onde ainda que a situação e os inimigos são velhos conhecidos dos espectadores, o que prima é o radical, o cruel sem rodeios, sem esquecer do humor negro pesado.

Porque nessa seqüência no fundo não trata sobre a luta do ser humano contra uma ameaça implacável, o que mostra é que o maior perigo de todo é o próprio ser humano, assim, ainda que a presença das criaturas seja constante, não passa de um plano de fundo, um mero recurso argumental para mostrar que em situações limites o ser humano não se une, as diferenças floreiam, ninguém se converte no bondoso, mas sim, escancara suas misérias, convertendo no predador mais implacável de sua própria espécie.

Ainda que o estilo visual segue sendo o mesmo, o que mostra na tela é esticado ate o limite de todas as questões relativas do gênero, o sangue, as vísceras, o horror e o humor extremamente negro, cuja única função é deixar o espectador num mar de lama que é plasmado ao ver que não existem heróis, tampouco anti-heróis, mas sim uma luta entre semelhantes para ver quem é mais miserável.

Por tudo isso ‘Feast II’ é uma pequena jóia, não só por ser uma seqüência superior em todos aspectos ao original, mas por mostrar-se livre, desimpedida. Quase uma mensagem dizendo que os humanos estão presos pela sua própria maldade que no fundo o único que fazem as criaturas do filme é redimir da única forma possível, com a morte

Nota 8,6

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Valsa Para Bashir (Waltz With Bashir)


Bonito filme, com uma animação espetacular, sublime, um ritmo de filme notável, amparado por uma ótima trilha sonora que acompanha a ação e melhora certos momentos de impasses e dramática quando necessário. O problema esta nos objetivos, no fundo e contido na mensagem final, não adianta colocar o cardápio atraente se a comida não for boa, por mais que isso facilite a digestão.

Entendo que muitos destacam a parte artística, de verdade compreendo e respeito, inclusive a mim me faz subir a nota, mas o que me incomoda no filme são três pontos bem concretos:

-Apelo fácil. Ari Folman deveria assistir “Bloody Sunday” e aprender como recriar a desolação posterior na batalha sem cair no vulgar de recorrer a cadáveres e descrever suas formas, dever “Nuit et brouillard” e sentir o lirismo perturbador que envolve cada tortura, cada assassinato injusto, as lembranças que envolve o fato ou deveria ir muito mais alem da simples determinação de culpa.

-Também posso mencionar o próprio desprendimento artístico da proposta, excelente em si mesmo porem descompassado com o tom do filme. Narrar uma matança não requer planos a contraluz de um bonito por do sol, não, ao contrario requer escuridão e requer crueza. Se a pretensão do filme transcorrer ate o quanto é dura a guerra e tenta mostrar mediante uma bonita animação recriando em estupendos enquadramentos, a denuncia perde efeito após a total submissão ao puramente estético, ‘Valsa com Bashir’ é mais um exercício de estilo que uma reflexão sobre a dor da guerra e suas memórias.

-Aqui esta o que acho a principal falha do filme. Desde o começo de sua estrutura narrativa, durando os 80 minutos de metragem nos mostram um personagem buscando as memórias perdidas, as lembranças de um massacre que em seu subconsciente crê diretamente culpado. Todos os testemunhos que recebem são de clemências à suas ações, compreendem suas decisões e de complacência no exato dia. Todos os personagens que desfilam entre o protagonista se mostram totalmente ignorantes sobre o que ocorreu do seu grau de implicação no assunto e acabam por convencer a Ari que a culpa tampouco é sua. Bem, ignorando um fato que como tudo anteriormente é completamente incerto (o Tsahal e Ariel Sharon, foram declarados culpados pela comissão aberta pelo próprio governo israelense), no qual é ignorar demais para meu modo de ver as coisas, percebemos que o filme não mede esforços pra tentar convencer o sofrido Ari que apesar de sua inércia naquele momento, como a de todos os soldados, foi o correto e não deve sentir remorsos porque não podia fazer nada.

Essa é minha postura perante o filme, é que ao assistir me dói na alma ao saber que alguém pode ficar passivo ante tal massacre.

Mas?

Se é puramente estético o que significa seus últimos 30 segundos? Pra que mostras as vitimas se o ponto de vista são dos carrascos? Não é contraditório mostrar as vitimas quando mostra que o protagonista toma o papel de testemunha? De onde vem o empenho de mostrar que o protagonista não se sinta culpado? Não seria contraditório que o amigo psicanalista diga sobre a possibilidade de criar memórias? Essa é a abordagem adequada? Não seria uma maneira de criar memórias superficiais? Será que o massacre de Sabra e Satila é o que gerou o maior trauma ao povo israelense?

Nota 6

Banquete do Inferno (Feast)



Uma noite entediante num bar de rodovia onde personagens patéticos deixam escapar pouco a pouco suas lamentáveis vidas é interrompida por um cara ensangüentado e armado que avisa que todos ali serão atacados por monstros sanguinários.

Um argumento tão simples como pouco original, um excelente roteiro com pitadas inovadoras, nos presenteia com uma obra absolutamente entretida, repleta de humor negro que não deixara indiferente os fãs com as cenas de gore, nem os amantes dos personagens absurdos que se envolvem em situações absurdas.

Em Feast não temos momentos entediantes, partindo de uma base que os personagens são apresentados com a tela congelada indicando o que cada um faz inclusive suas estimativas de vida, Gulager nos oferece um espetáculo de vísceras e sangue sem chegar a 15 minutos de filme, a partir daí graças aos monstros que atacam rapidamente e só querem liquidar ou desmembrar tão distintos personagens, se forma uma tensão ambiental que se mantém suficientemente bem em determinados pontos e nos leva de um lado a outro observando as peripécias dos protagonistas, suas tentativas de fuga ou de medo dos monstros e ainda conta com um grande ritmo quem em nenhum momento chega a diminuir as expectativas e não se torna repetitivo.

Tem que agradecer também que tendo base nessas características, dos personagens presos num lugar onde dificilmente podem escapar, Gulager sabe desenvolver sem recorrer a nenhum dos tipos do cine de horror atual e todos atuam com um mínimo de lógica ou sendo conseqüentes, apesar que alguns alguns são esmagados pela conseqüência.

Entre seus protagonistas tem de tudo, o herói que chega ao local advertindo o perigo, o típico personagem louco, uma mulher idosa aparentando calma, o drogado, o pobretão, os que tentam dar ênfase mais serias em suas idéias de salvação, a gostosa e uma variedade atípica que da muita vida ao filme.

Não falta humor, que fará Feast um acontecimento tão sanguinolento, divertido, frenético, tenaz e absorvente para qualquer que saiba apreciar as qualidades de umas das melhores propostas do horror ultimamente e evidentemente deixe atrás algumas limitações técnicas.

Demolidor e genial.

Nota 7,4

Tony Manero




Tony Manero vai contra o típico cine chileno, um filme sobre um homem cansado da mentalidade medíocre de seu país e que dentro de sua loucura é capaz de lutar a qualquer preço pelo seu objetivo, deixando de lado toda limitação sendo capaz de bater em idosos, roubar pertences de mortos e defecar nas roupas alheias, tudo isso amparado por uma excelente atuação de Alfredo Castro.

O filme sem duvida é impactante e não será apreciada pela maioria dos espectadores e não é apta para habitues do cine comercial. Representante do Chile para os prêmios Oscar, merece ser vista apesar de dura, é um filme bem realizado devido ao baixo orçamento que teve.


Nota 9,3

Matando Cabos



Com humor inteligente na maioria das situações e com uma ótima narração, Alejandro Lozano consegue entreter durante um pouco mais de uma hora e meia com uma historia cheia de situações loucas, personagens excêntricos e boa musica.

O filme se torna curto pela ação desenfreada, na qual se misturam sem pausas todos os elementos do gênero ‘pulp’: violência, reviravoltas no roteiro, personagens surrealistas e sobre tudo um humor bem interessante. Desde o principio percebemos o que esta por vir, dois caras engravatados conversam no reservado de um banheiro de escritório enquanto outro esta seminu no reservado do lado, a partir daí não tem pausa para respirar, a ação é divertida, cheia de mal entendidos e manipulações e todos os atores estão corretos, desde os principais até os coadjuvantes.

Nota-se a influência de Tarantino em muitas cenas, mas não recria seus diálogos, mas também homenageia diversos diretores. A fotografia peca por ser muito estática num filme cheio de energia e existe uma terrível falha de continuidade, mas que não atrapalha num filme que exala o folclore moderno do México.

Diversão garantida.

Nota 7,6

domingo, 15 de março de 2009

Mártires (Martyrs)


Se o cinema é o reflexo da sociedade, não tenho duvida que a saudosa e progressista França esta afundada numa crise de valores e uma decadência moral que custara muito tempo sair.

O reflexo mais claro é que a síndrome Aja segue fazendo danos, muitos danos. Não é pela falta de qualidade do diretor, é uma questão da falta de talento de uma legião de imitadores que se apresentam como supostos diretores de cinema e que enquanto se reivindicam como herdeiros de um estilo determinado de fazer cinema, não se dão conta que na realidade estão mendigando migalhas de um possível sucesso comercial.

Esse filme é claramente um exemplo paradigmático dessa situação, um filme rodado as pressas, como se cada plano fosse uma nova forma de fazer cinema e que pretende fazer ao sofrido espectador que sua violência crua e brutal seja uma forma veicular, como qualquer outra de fazer chegar uma mensagem supostamente profunda e transcendente.

No caso que se apresenta não saberia se pretende denunciar o uso da violência ou criticar novas formas de fundamentalismo religioso que assola nossa sociedade. Porém a questão fundamental é que nada disso importa, já que o filme nunca consegue transcender alem da expectativa que gera ver o nível de bobagens e depravações na tela poderia chegar mais alem, sim, existem limites na barbárie cinematográfica.

Tudo devido à uma filmagem desajeitada, cheia de exageros e reviravoltas ridículas do roteiro que transita entre a obviedade mais corriqueira e a incoerência mais escandalosa, e que, o responsável desse ultraje acredita que por trás do que filmava havia uma trama que sustentaria em base de sua transcendência, quando o único que aparece, são pretextos banais que não podem justificar em nenhuma parte do filme.


A questão é: que se o diretor acha que os telespectadores são otários ou ele realmente acredita no que esta fazendo? Mas independente da resposta sabemos que em ambos os casos, o responsável por esse filme é alguém incapacitado de fazer cinema ou mesmo que seja um esperto querendo enganar as pessoas pela sua inegável falta de talento.


Mas o pior de tudo é que os defensores desse ultraje cinematográfico, dirão que é um filme extremista, doente, revolucionário, demente, incrível, brutal, contundente e mais uma dúzia de besteiras, quando o que prevalece é violência e gore gratuito e a vontade de surpreender o espectador diante de truques nefastos e irrisórios. Segundo ele é provocação, sim, claro que o cine pode ser provocação, mas a provocação entendida como um tema que deixa uma mensagem sobre o que debater posteriormente, quando termina o filme, a provocação é um acumulo de seqüências que pretende ser desagradáveis mas não lembra em nada as seqüência das grandes obras do cinema.

O que salva no filme é a maquiagem por isso tem essa nota.


Nota 1

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Lutador (The Wrestler)


O triunfo da integridade pessoal sobre a adversidade dentro dos labirintos da existência.
Darren Aronofsky é um dos maiores em transcender suas imagens nos seus filmes em geral, se não for em todas, são na maioria que compõe as mesmas. Nesse caso, Darren transcende o lixo, o abandono, a decadência, a brutalidade e com certeza, a carne. Esse diretor de texturas se concentra em reviver a carne, em fazer bela a sua laceração e monstruosa em sua grandeza, instrumento que fornece informações e depois nos priva colocando-a numa prisão onde talvez não seriamos capaz de alcançar, carne untada de cérebro que reverdece o efêmero do seu apogeu e nos faz ser testemunha de sua decadência.. Mais uma vez o homem/artista quer ser especial e tem talento para isso. Algo talvez que importe somente ele num nível fundamental (como qualquer realização pessoal) que qualquer pessoa que o cerca e satisfaz somente um instante, uma lágrima salpicada de sangue para jogar como um insulto voraz na cara de pessoas que na vida não tem nada de especial. Mas, para ele, porem, é sua vida. Sua vida é tudo, porque é o único que sabe viver e isso lhe torna especial ou a única que lhe faz sentir que pode ser especial. Mas quando isso que te faz sentir especial explode diante dos seus olhos e te absorve se converte em tudo o que é realmente... E cedo ou tarde abandona sua filha, abandona o amor, abandona sua saúde e abandona a si mesmo para seguir consumindo a droga de talento que Deus lhe deu. Aqui não importa o raciocínio. Darren fala sobre dois mundos bem diferenciados em seus filmes: o das drogas e decadência, as conveniências da rua e do mundo do espetáculo, suficientemente longe da intelectualidade como tão próxima da sabedoria do movimento e por outro lado os gênios matemáticos. No primeiro grupo (Réquiem e agora Wrestler) buscam ser especiais a partir das suas virtudes, errando em suas decisões e jogando tudo a perder, mas com o horizonte sempre em mente, negando o que são e buscando o que querem ser. No segundo grupo estão aqueles que com suas complexas virtudes e dotes mentais impedem saber quem é ou o que fazem aqui, ate que chega a redenção em seus finais prodigiosos. De tal forma, Darren os coloca na mesma tessitura de ter que afrontar seus equívocos e afrontar seu destino, que sempre será esquivo, independente do estado social ou intelectual.
Pode conter SPOILERS

“The Wrestler” é colossal em abordar o pressuposto do que essa pessoa resulta ser, o encontro íntimo do seu próprio ‘eu’. Consequentemente esse caminho difícil o levara à um final antológico no qual, longe de se arrepender no caminho, se alegra de poder morrer sendo o que é, sem se trair, sem curva-se diante as pessoas, sempre lutando. De fato, no final sentimos que eram necessárias as lagrimas de sua filha e a ausência da ultima cena da stripper preferida. É necessário o abando porque o artista é incompreendido, o lutador é malvado. A pessoa é solitária e merece essa solidão, mas ainda vai alem e deseja essa solidão, o triunfo entre os aplausos finais de um público fervoroso, entre a multidão sem nome, sem alma e sem memória que é sua família. E Darren não consegue plenamente em todo filme, portanto precisa dessas cenas raivosamente suadas, ensangüentadas e gloriosamente realistas filmadas prodigiosamente nas cenas de luta livre. Nelas, o caráter hercúleo desse monte de carne maltratado entra de cheio na antologia de imagens icônicas e fundamentais da sétima arte e o lutador se faz eterno, alcançando essa sobre humanidade que lhe faz ser especial. Pobre, grotescamente deformado, louco, aborrecido, descontente, mal amado, respeitado e eterno. É aqui onde entra o ator que da vida ao fantoche que não poderia ser outro que não Mickey Rourke em umas das melhores interpretações jamais vistas no cine. O Touro Selvagem do século 21 que literalmente come o filme. Talvez por isso Darren não precisasse recorrer a essa montagem elétrica, nem essas tomadas no ritmo de tecno. Porque com sua câmera seguindo o eterno travelling do corpo ágil e ao mesmo tempo desvirtuado de Rourke lhe bastava para fazer uma obra de arte e transmitir tudo que a historia necessitava. Uma historia que ao contrario da típica narração scorcesiana, não fala da ascensão e decadência do herói, mas somente de sua caída na barbárie imunda e a elegância de sua áspera carne mutilada, quebrada, machucada e renascida.Do final que paradoxalmente é seu principio e seu tudo. Não faz falta a outra metade nada mais que para os créditos de abertura, porque o êxito esta no final, justo nesse ultimo sorriso antes do inevitável e acolhedor salto ante o abismo e posterior fundo negro. Nosso anti-herói, um dos maiores de todos os tempos, obteve justo o que estava buscando.
Nota 9

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Deixe Ela Entrar (Let The Right One In)





Peça-me para falar sobre o primeiro amor, os corações infantis desorientado, cheios de neve e de tristeza, o primeiro beijo e a solidão. Os sofrimentos dos filhos de famílias desestruturadas, daqueles que não encontram seu lugar no mundo e são desprezados e assediados dia trás dia pelos que os rodeiam. Aqueles tempos de luz e ingenuidade dos passeios no parque, quando o coração parecia que ia romper o peito e o nome da pessoa que amava ficava preso entre os lábios. Peça-me que fale sobre amores impossíveis pelos quais fazemos coisas impossíveis. Vou falar de sangue e criaturas que ardem com a luz do sol, falarei sobre uma historia que se desenvolve em silêncio rodeada de morte e escuridão, falarei de amantes que se comunicam em código Morse através das paredes e nas noites fogem em trens acompanhados de caixas. Falarei de um filme e de seu excelente final, que como um eco ainda ecoa em meu interior, quando a tela se torna negra e não sabemos se rimos ou choramos, vou falar de Oskar e Eli. Vou falar de “Deixe Ela Entrar”.
Não tenho adjetivos para catalogar tamanha jóia do cinema, um filme bárbaro, uma verdadeira maravilha, pausada, perturbadora, inquietante. Filme de qualidade como pouco se vê e quando começa a crer que esta ficando lento, vem o melhor. Não é um filme fácil de digerir e estou convencido que a maioria não vai gostar já que é lento em sua evolução e isso deixara para trás um bom numero de espectadores que não darão chance ao tempo que a história se desenvolva e perdera um dos finais mais soberbos do cinema.
Oskar é um jovem de Estocolmo que vive sob a pressão da mãe e de colegas do colégio, é um menino solitário e com uma família totalmente desestruturada. Vive em seu próprio mundo até conhecer numa noite Eli, uma jovem da mesma idade na qual se desenvolve uma estranha amizade, essa jovem guarda um segredo que não poderá ocultar durante muito tempo à seu novo amigo.

Os dois jovens protagonistas dão uma lição de interpretação em grau máximo. O garoto que interpreta Oskar é frágil como o personagem precisa, mas é a garota que nos oferece uma ótima interpretação que beira a perfeição, frágil, inquietante, perturbadora e dura.
O diretor revisita o mito do vampirismo de uma forma simples porém requintada, com cenas excelentes como a do vômito com doces, a mulher convertida e sobretudo na do convite a um vampiro para entrar na casa.

O filme marca um antes e depois desse tipo de filme, não sei se é um filme de vampiros, de horror ou romance, é complicado encontrar um gênero no qual se encaixe. A história é sólida, o roteiro absolutamente fabuloso, belíssima fotografia contrastando a cor branca do filme com o vermelho do sangue de maneira significativamente simbólico.

A homossexualidade e pedofilia nunca foi tratada com tanta sutileza.


Definitivamente é um filme 100% recomendável a todos aqueles que amam o cinema e sobretudo que não esperem vampiros voadores. Esse filme esta mais perto de “The addiction” de Abel Ferrara que qualquer outra obra de vampiros que já tenha visto.

Uma ode ao amor mais puro.

Nota 10

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Rio Congelado (Frozen River)

Depois de ver “Frozen River” minha primeira pergunta é ‘onde estava Courtney Hunt todo esse tempo?’ O primeiro longa dessa indiscutivelmente talentosa diretora não é apenas bom, realmente é magnífico, tem uma direção tão sóbria que merece um bom tratado sobre o porquê é tão brilhante.

O roteiro gira em torno de Ray Eddy (Melissa Leo) uma mulher branca que ‘sobrevive’ com seus dois filhos (logo após o abandono de seu esposo devido o vicio no jogo) em um povoado sem futuro no extremo norte do estado de Nova Iorque, perto de uma reserva mohawk ao lado da fronteira com o Canadá. As dúvidas e preocupações levam Ray à associar-se com Lilá (Misty Uphan) uma índia mohawk que foi despojada de seu bebê, para passar imigrantes orientais do Canadá ao Estados Unidos atravessando um rio congelado, o qual desencadeia não só um fino thriller alimentado pelo desespero da protagonista mas, também e principalmente, uma bonita história de humanismo e amizade.
>As atuações são simplesmente esplêndidas. Melissa Leo da vida a Ray Eddy com uma precisão esmagadora, é impossível imaginar outra atriz para esse papel, seus gestos são naturais e expressam com absoluta sinceridade a crueza de seu personagem. Apesar que Ray Eddy esta longe de ser uma mulher perfeita, a humanidade que Leo lhe proporciona faz que possamos nos identificar, como seres humanos, como sua situação, além disso, Leo nos brinda através de sua interpretação a energia dramática instintiva que veio desenvolvendo durante sua longa carreira como atriz, alguns momentos de humor inesperado. O trabalho de Courtney Hunt como diretora e roteirista do filme é bonito e refrescante, reparou em todos os detalhes para introduzir a um mundo cotidiano regido pela pobreza e falta de oportunidades no qual uma mulher, para poder alimentar seus filhos, deve submeter-se em uma jornada perigosa e humilhante. Hunt conseguiu realizar uma obra-prima que apresenta com originalidade, intensidade e honestidade a face pouco conhecida de seu país, desmistificando com perspicácia e inteligência o conceito do ‘sonho americano’ que cada vez esta mais pra ficção que realidade.“Frozen River” poderia ser um filme pequeno devido seu orçamento mas é grande em seu conteúdo e na medida que se configura como o testemunho de Courtney Hunt, um novo talento que promete muito no futuro.

Nominada ao Oscar 2009 por Melhor Roteiro e Melhor Atriz e ganhadora do Sundance como Melhor Filme.

Nota 10

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Dúvida (Doubt)

Um ano depois do assassinato de JFK, uma escola católica dos EUA se debate entre o tradicionalismo docente de sua diretora interpretada pela veterana e magistral Meryl Streep e pela modernidade do padre do colégio, personagem interpretado por Phillip Seymour Hoffman. Entre ambos temos de contra peso a Irmã James, uma jovem freira, professora do colégio, cujas dúvidas na hora de tomar partido de um ou outro lado será compartida com o espectador.Ganhadora dos prêmios Pulitzer e Tony, “Dúvida” é uma adaptação cinematográfica que John Patrick Shanley fez de sua própria obra teatral multi premiada. É um estupendo, inteligente e sutil filme, que agradeço nesses tempos de cinema mastigado para tontos. John Patrick Shanley aqui escreve, produz e dirige. Shanley, diretor do inconseqüente Joe Contra o Vulcão, se mostra muito mais sério e profundo que em seu debut cinematográfico, longe de conduzir seu novo filme pelo fácil caminho do maniqueísmo primário e visceral, mantendo até os créditos finais nossa incerteza sobre os verdadeiros sentimentos e motivações dos dois ‘concorrentes’. É a Irmã Aloysius uma má intencionada mulher interessada em desacreditar o Padre Brendan ou é a única que consegue ver as secretas e indecentes intenções que este tem sobre o aluno? Talvez deliberadamente, essa dúvida acabara eclipsando o debate educacional levantado minutos antes e confundirá a verdadeira intenção do filme, fazendo assim honra ao titulo do filme e se distanciando de outras produções como “The Priest” ou “The Magdalene Sisters” que unicamente pretendiam enfrentar a igreja católica.
Como não poderia ser de outra maneira “Dúvida”, transcorre por uns parâmetros bastante teatrais. Suas ações transcorrem em interiores e cenários limitados visualmente, encontra na dialética e nas participações seu grande estimulo.
Sem dúvida a severa interpretação de Streep e a apaziguada melancolia que quase sempre desprende Hoffman darão esses diálogos uma maior profundidade e carga dramática, sem embargo, não estamos diante de um mero exercício de teatro filmado. Shanley acompanha diálogos e interpretações com uma boa mistura de imagens simbólicas que de uma maneira bela e constante subtrai muitos dos sentimentos dos personagens, confirmando que é um diretor conhecedor do meio e não como um prestigioso autor que se situa atrás de uma câmera para adaptar-se a si mesmo.

Amy Adams volta pra provar que veio pra ficar e Viola Davis em apenas seis minutos cria um personagem completo.

Nota 10

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O Menino do Pijama Listrado (The Boy in the Striped Pyjama)s



Adaptar um filme de uma novela convertida recentemente em um best-seller e que milhares de pessoas leram é uma tarefa difícil. Como disse Mark Herman, nessa ocasião se tratou de melhorar o filme que todos os leitores havia feito na mente. A historia é profundamente aterradora porque nos faz intuir o horror através da inocência de olhos alheios ao mal.

O livro de John Boyne me decepcionou em sua maior parte, mas a adaptação ao cine é mais brilhante, vibrante e verdadeira e supera em todos aspectos seu referente literário. Em primeiro lugar a ambientação elegante e sóbria. A narração é elétrica e vai crescendo sempre e o diretor dirige com mão firme todos os aspectos da historia que poderia ter cometido vários erros e que sem embargo da uma lição de como fazer uma adaptação cinematográfica que melhora em todos os aspectos o original literário.

No filme não existe alguns elementos do livro, como o Furer, pra não tirar a importância do verdadeiro eixo da historia: o horror oculto, camuflado, latente frente a aprazível vida de um comandante nazista e sua família. A principal critica do filme não é o genocídio nazismo em si, a verdadeira crítica é de um dos poderes mais malignos que existe no universo, a indiferença.

Justo do outro lado da indiferença esta a curiosidade, a vontade de aprender, de ser consciente da realidade, de explorar o mundo, de estender uma mão e ver que através dos arames tem outra para aperta-la, de ser corajoso e sobre tudo e frente tudo, descobrir que aquele que nos olha com olhos diferentes ao nossos pode ser nosso melhor amigo, Dando uma lição de amor, inocência e fraternidade aos adultos, as crianças protagonistas dessa bela lição de moral entram na escuridão com a maravilhosa luz da amizade.

Nota 9

O Leitor (The Reader)



“O Leitor” não é uma historia sobre amor impossível entre um adolescente e uma mulher madura, também não é um drama judicial com o nazismo como pano de fundo, é muito mais, é uma perfeita metáfora sobre o doloroso e ambíguo sentimento que da sociedade alemã frente ao seu passado nazista. Michel, o protagonista do filme não só é um jovem doente socorrido por uma atraente mulher, como representa a enferma sociedade alemã pós-guerra. Por sua parte, Hanna não só é a ignorante e maternal mulher que seduz Michael, ela representa a promissora pátria nazista, a pátria mãe.

Depois do idílio vem à crua realidade, o que essa mulher foi capaz de fazer?
Michael como a sociedade alemã ante à contemplação dos campos de extermínio esta confuso: como essa atrativa, bondosa e complacente mulher que lhe seduziu e ajudou quando mais necessitava foi capaz de cometer semelhante crime? A reposta somente pode ser uma, por trás do choro desconsolado e a decepção, somente fica a autocrítica e o peso do passado.

Diante tudo isso esta Stephen Daldry para demonstrar porque ganhou o respeito tanto da critica como do publico. Com “Billy Eliot” emocionou, com “As Horas” mostrou seus dotes dramáticos e como “O Leitor” esta pronto para agitar consciências. O filme se divide em duas partes claramente diferenciadas. Tanto que até que chegue o final custa crer que formem parte do mesmo discurso. A primeira metade nos apresenta a relação amorosa dos protagonistas, gosto das primeiras cenas como a historia contada em flashback, com cenas cheia de sensualidade e um ar fino e intrigante, as vezes cai o ritmo, mas por sorte temos Kate Winslet, que enche a tela todo o tempo.

Na segunda metade ela já não aparece tanto, mas é quando o filme da o sentido e é aqui que muitos filmes fracassariam estrepitosamente. Mas “O Leitor” cresce ante a adversidade e consegue construir a metáfora num tema extremamente complicado para tratar com tamanha delicadeza.

A aparente simplicidade do filme é uma excelente arma de combate e da liberdade do autor para desenvolver com total liberdade um sólido discurso que fala do amor, da culpa, da memória e da responsabilidade histórica.

O que realmente nos traumatiza costuma ser algo que levamos enraizado no mais profundo da alma. Ainda que às vezes lembremos do ocorrido sempre tampamos com um véu espesso e pensar em contar para alguém transforma tudo em utopia. Acostumamos esconder nossos traumas e inseguranças de tal forma que nem os mais próximos são capazes de saber. Possivelmente com o tempo e dependendo do trauma percebemos que algo esta errado, mas a própria pessoa se encarregara que isso não se supere, nunca seja descoberto com certeza. Essa mesma pessoa enfrentara situações e problemas piores, vistos objetivamente, porem sem conseguir essa intimidade que alcança com pequenos traumas que leva consigo grande parte de sua vida, podendo provocar que cometam outros erros que não seja tão grave para não admitir o primeiro problema.. É como um segredo de amigos, mas dentro de si, que em vez de alimentar a confiança em ambos, alimenta a frustração da pessoa impedindo dar passos necessários para corrigir-los, se é que fosse possível. O que esta claro é que não admitira nunca e o dia que o faça já o tenha superado.

Com tudo isso Daldry nos brinda com um produto inteligente que nos faz pensar, que mantém distância de tendências maniqueístas e que oferece uma infinidade de leitura.

Nota 10