segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

The House of the Devil


Surpreendente produção do jovem diretor e roteirista Ti West que aparentemente nos conta uma historia de horror, mas é muito mais do que parece. A primeira coisa é o preparo cuidadoso, a direção de arte é perfeita, com uma alucinante estética oitentista.

Pode parecer que à medida que o filme avança, não acontece nada... Mas tudo o que acontece se acumula para o resultado final. Ele demonstra mais uma vez que em filmes como, e com muito pouco, pode conseguir uma tensa e opressiva atmosfera, que só precisa de bom trabalho e imaginação. O filme é uma agradável surpresa, dentro das porcarias que estréiam todos os anos nesse tipo de filme.

Agora sem duvida, Ti West é um direto que temos que acompanhar de perto, espera que não decepcione futuramente.

Nota 8

Um Olhar do Paraiso (The Lovely Bones)



Peter Jackson é daqueles diretores que os filmes deixa uma deliciosa lembrança, certamente melhor do que acaba de me deixar Um Olhar do Paraíso.

O problema do filme é o roteiro, a idéia é original (a vida dos entes queridos de uma pessoa morta vista desde outro plano), mas, é levado de uma forma medíocre, inclinando-se a um melodrama de lágrimas fáceis e sentimentalismo barato e para provar isso bastam às constantes narrações da protagonista que da um ao filme um toque se auto-ajuda. Os personagens são mal aproveitados, tirando o assassino, ninguém chega impacta, nem a médium e nem a própria protagonista.

A verdade é que tinha expectativas, portanto fui assistir com um padrão muito elevado, porem é triste ver todos esses bons atores desperdiçados (Mark Whalberg é previsível e utópico, Rachel Weiz apenas basta, Susan Sarandon é melhor não comentar) num filme medíocre e superficial. Seu ponto forte termina na primeira meia hora e com ela se vai todos os rastros de originalidade, no qual regressa por instantes quando entramos no mundo pessoal de Susie (a garota assassinada) e começa o desfile de FX’s.

Mas nem tudo é mau, o filme tem vários momentos (raros) que chega a enternecer ou impressionar (a maior parte estrelado por Stanley Tucci, que cheira uma indicação ao Oscar de melhor coadjuvante) ou no mundo mágico de Susie no final do filme e em uma em especial que contem muita tensão (o pai no milharal).

Dos aspectos técnicos nem preciso comentar, bela fotografia, iluminada, FX’s bons que trai com o CGI às vezes, OST linda (amo Cocteal Twins), direção de arte excelente e por mais que os personagens não sejam interessantes, se nota a intenção do elenco para dar um mínimo de interesse aos seus papéis.

Não é um filme que recomendaria, mas para os que vejam, façam sem grandes expectativas e sendo pacientes com alguns momentos que fazem que o fim alcance o aprovado, talvez assim gostasse mais.


Nota 5

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

500 Dias com Ela ( (500) Days of Summer)


Ao contrário de outros filmes, caracterizados pelo típico ‘garoto encontra garota’, 500 dias começa por convencer o espectador que a relação que vamos ver não vai acabar bem. A partir desse ponto de partida, que parece mais que interessante alguem pode dizer não vale a penas seguir assistindo, porque sabemos o final. A graça de um filme romântico esta no ‘suspense’ de que apesar da tristeza, o amor triunfa diante de todas as adversidades.


Porém, aqui nada disso acontece. Garoto conhece garota, isso acontece. Nos mostra paralelamente como vão se formando a relação entre os protagonistas, assim como vão rompendo.

Mostra-nos os diferentes momentos que pode acontecer num relacionamento. O toque de humor não pode faltar. Mas isso não é um amor punk com situações bizarras quase aleatórias, o humor aqui reside nos momentos diários e expressões que chegamos a dizer mais de uma vez. Então o filme esta mais próxima da realidade e, assim, se conecta com o espectador, que consegue sentir mais perto da trama.

Indiscutivelmente, o filme nos da, a cal e a areia, jogando com os saltos no tempo, entregando-nos momentos diferentes da relação. São cenas diferentes que são ligadas pela passagem do tempo e que separadas cria um contraste que não nos deixa indiferente.

Tom Hansen, o protagonista e anti-herói da historia, é um jovem preso a um trabalho que não gosta e que sonha encontrar o amor. Joseph Gordon-Levitt esta brilhante em sua atuação, tanto que nos momentos cômicos (como a cena do musical) e nos amargos. Além da química que entre ele e Zoey Deschanel é inegável. O personagem de Summer é fofo e misterioso ao mesmo tempo, os olhares perdidos e ainda repleto de significados, torna mais fácil conectar com ela, já que parece que ela pertence a outro mundo.

O desenvolvimento do filme é original, alem dos saltos de tempo e as elipses, a trilha sonora é usada para dar dinamismo às cenas. Os diálogos agridoces porem reais, fazem que esse filme sirva de reflexão sobre esse imenso universo que é o amor. Apenas podemos chegar à conclusão que o amor é isso, um vasto universo.

Nota 10

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Anticristo (Antichrist)



Assistir esse filme é confrontar com a própria natureza. Tornar-se testemunha de um fato que sentia bem fudido, mas tinha medo de expressar. Assistir esse filme talvez não possa voltar atrás. Como é pomposo e egoísta Sr Von Trier, também é um virtuoso cineasta e uma pessoa extremamente inteligente (e estranhamente desequilibrada como qualquer gênio, o milagre aconteceu e a toque de magia que consiste não em fazer um filme redondo, porque não é, mas sim uma obra de moralidade ambígua e bem calçada com botas de pantaneiro pronta para desferir um pontapé nas bolas daqueles que não estão dispostos a assistir, porque isso é muito fácil, pensar no filme é o difícil.


E não acho o filme mais transgressor e ofensivo do dinamarquês, por mais que estejam falando isso, apenas o filme levanta uma questão espinhosa para determinados segmentos do publico, que poderiam condená-lo como misógino e o farão. É sem duvida uma maioridade do cineasta e uma das mais belas fotografias que vi em minha vida. O prólogo em si, é uma obra-prima que forja o perfeito equilíbrio da narrativa, tom, cor, musica ambientação e apresentação formal.

De qualquer maneira Lars, como não quer seus personagens, faz o que quer com eles, e isso porque este acostumado a trabalhar com algum dos atores mais corajosos e dedicados, essa mistura acaba parindo uma monstruosidade de indescritível beleza, dolorosa e sincera. E o que é isto? Talvez seja um dos mais profundos mergulhos que foram praticados em busca da origem da maldade humana. E essa maldade, geneticamente e filosoficamente, nasce da mãe, como todo ser vivo como tudo nesse mundo que possa ser limitado a natureza.

Logo após a tragédia, o marido se converte no terapeuta de sua mulher sem ser solicitado, levando-a para sua cabana na floresta para que ela possa enfrentar seus medos, resultantes de uma dor de luto patológico. Sua dor, aparentemente é comum e aceita a morte do bebê com firmeza. O conceito do filme reside em que a mulher traumatizada considera a natureza “a igreja de Satanás”, algo perverso e cruel. E se a natureza é ruim, ruim será sua matriz, seu útero, e, portanto, o feminino.

O corpo feminino não é regido pela mulher, é governada pela natureza, a natureza utiliza cores e aromas para ser fecundada. Na mulher, essa arma de dois gumes é seu corpo e seu próprio sexo. Por isso, parece que depois da morte do seu filho, ela tem medo da natureza e passa a se odiar. Durante uma grande parte do filme nos faz crer que ela tem medo da natureza, mas finalmente compreendemos que é a natureza que repele ela, talvez por ter mostrado a verdadeira face.

De fato, como sabemos justo no momento que tudo esta cheio de sangue, desde o ultimo verão, que seria o ultimo de seu bebê, ela começou a mutilar e espancar os animais (três mendigos) e mudar a posição dos sapatos do filho. Para modificar a natureza, para criar um limbo antinatural e combater (ou entregar) essa dureza, a violência inerente da floresta. Talvez como um ritual satânico, para convencer-se de suas próprias crenças, alimentadas por leituras desagradáveis, como prova irrefutável de qualquer tese que possa ser discutida e defendida.

Mas quando ele descobre tudo flui numa onda de ‘gore’ mais ou menos explicitar que desemboca para o pior dos resultados. ‘Uma mulher quando chora, esta tramando algo’, diz a impressionante e estranhamente bela entre as feias, Charllote Gainsbourg. Ela permitiu a morte do filho, ela utilizou o marido pra morrer, ela acaba tendo toda a razão, apensar que seu marido não a considerava tão inteligente e chamou sua tese de simplista. Eventualmente, o marido se torna um assassino, e descobre que os sintomas que ele diagnosticou como ansiedade são os sintomas de uma fúria assassina. Ele queria que ela fosse preenchida pelo verde, que fazia parte da natureza, porque ele próprio era.

E a natureza, por fim, acaba sendo cruel como ela previu. Acaba sendo a única assassina real, porque mostra a sobrevivência como assassinato. Porque as tabelas normais de tristeza não existem, é uma infâmia a constatação comprovada de que se pode suportar a morte de um filho. Em um momento, ela diz que quer morrer também, mas ele não deixa...

Existe algo mais prático realista, doloroso e cruel que esse ato?

O paradoxo é que, se todos nós aceitarmos a face cruel e malvada da natureza, porque parece tão demoníaco o antinatural?

No epilogo, todas as mulheres agredidas pelos homens que as consideravam bruxas, sobem para a montanha, liberadas por seu salvador. A floresta esta cheia de braços e de pele, não há distinção entre a natureza humana e a natureza verde.

Por fim entendemos que o mal é ruim, tanto aqui como lá fora.

Nota 10