sexta-feira, 10 de abril de 2009

Valsa Para Bashir (Waltz With Bashir)


Bonito filme, com uma animação espetacular, sublime, um ritmo de filme notável, amparado por uma ótima trilha sonora que acompanha a ação e melhora certos momentos de impasses e dramática quando necessário. O problema esta nos objetivos, no fundo e contido na mensagem final, não adianta colocar o cardápio atraente se a comida não for boa, por mais que isso facilite a digestão.

Entendo que muitos destacam a parte artística, de verdade compreendo e respeito, inclusive a mim me faz subir a nota, mas o que me incomoda no filme são três pontos bem concretos:

-Apelo fácil. Ari Folman deveria assistir “Bloody Sunday” e aprender como recriar a desolação posterior na batalha sem cair no vulgar de recorrer a cadáveres e descrever suas formas, dever “Nuit et brouillard” e sentir o lirismo perturbador que envolve cada tortura, cada assassinato injusto, as lembranças que envolve o fato ou deveria ir muito mais alem da simples determinação de culpa.

-Também posso mencionar o próprio desprendimento artístico da proposta, excelente em si mesmo porem descompassado com o tom do filme. Narrar uma matança não requer planos a contraluz de um bonito por do sol, não, ao contrario requer escuridão e requer crueza. Se a pretensão do filme transcorrer ate o quanto é dura a guerra e tenta mostrar mediante uma bonita animação recriando em estupendos enquadramentos, a denuncia perde efeito após a total submissão ao puramente estético, ‘Valsa com Bashir’ é mais um exercício de estilo que uma reflexão sobre a dor da guerra e suas memórias.

-Aqui esta o que acho a principal falha do filme. Desde o começo de sua estrutura narrativa, durando os 80 minutos de metragem nos mostram um personagem buscando as memórias perdidas, as lembranças de um massacre que em seu subconsciente crê diretamente culpado. Todos os testemunhos que recebem são de clemências à suas ações, compreendem suas decisões e de complacência no exato dia. Todos os personagens que desfilam entre o protagonista se mostram totalmente ignorantes sobre o que ocorreu do seu grau de implicação no assunto e acabam por convencer a Ari que a culpa tampouco é sua. Bem, ignorando um fato que como tudo anteriormente é completamente incerto (o Tsahal e Ariel Sharon, foram declarados culpados pela comissão aberta pelo próprio governo israelense), no qual é ignorar demais para meu modo de ver as coisas, percebemos que o filme não mede esforços pra tentar convencer o sofrido Ari que apesar de sua inércia naquele momento, como a de todos os soldados, foi o correto e não deve sentir remorsos porque não podia fazer nada.

Essa é minha postura perante o filme, é que ao assistir me dói na alma ao saber que alguém pode ficar passivo ante tal massacre.

Mas?

Se é puramente estético o que significa seus últimos 30 segundos? Pra que mostras as vitimas se o ponto de vista são dos carrascos? Não é contraditório mostrar as vitimas quando mostra que o protagonista toma o papel de testemunha? De onde vem o empenho de mostrar que o protagonista não se sinta culpado? Não seria contraditório que o amigo psicanalista diga sobre a possibilidade de criar memórias? Essa é a abordagem adequada? Não seria uma maneira de criar memórias superficiais? Será que o massacre de Sabra e Satila é o que gerou o maior trauma ao povo israelense?

Nota 6

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