sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O Crepusculo dos Deuses (Sunset Boulevard)


Um filme desolador, cruel, em que o humor sempre presente na obra deste autor esta descartado e, quando aparece, o faz acompanhado de amargor. Ficção e realidade se mesclam pra nos dar a historia de uma antiga estrela do cinema mudo, reclusa em sua anacrônica mansão e esquecida pelo publico fiel que a idolatrou.
Nessa mansão chega um roteirista perseguido pelos seus cobradores que começara a estabelecer uma relação vampiresca (será primeiro o roteirista de “Salomé”, o ‘comeback’ que a diva quer retornar; mas acaba se tornando um gigolô em uma cidade que os sonhos se movem por dinheiro). Este argumento servira para Wilder e Brackett, fazer o melhor do cinema, revisando com luxo de detalhes e sem poupar as crueldades da natureza dessa industria dos sonhos, que faz seus protagonistas viverem numa demanda perpetua de carne fresca, autentico pesadelo.

Como não poderia ser de outra forma nos filmes do mestre, os diálogos são sublimes, que ficam gravados na memória (EU SOU GRANDE, O CINEMA QUE SE FEZ PEQUENO; NÃO A NADA TRAGICO EM TER 50 ANOS A NÃO SER QUE TENTE TER 25; SR. DE MILLE, QUANDO QUISER ESTOU PRONTA!); mas aqui, cuida muito da imagem, sempre, mas secundaria para o autor como ele. A seqüência da piscina, a da filmagem de “Sansão e Dalila” com esse foco que a ilumina, a seqüência final da descida nas escadas é uma prova que este filme de Wilder cuidou tanto das imagens, talvez por chegar tão perto das esplendidas estrelas do cinema mudo (figuras de cera) que perfeitamente retratou.

O trio protagonista esta em estado de graça. Começando pela extraordinária Swanson que dotada de gestos exagerados nos mostra a loucura que sucumbira (maravilhosa seqüência na que imita Chaplin, o primeiro plano final, com esse olhar que congela o sangue). Meu admirado Erich V. Stroheim, como o criado e antigo diretor, numa atuação contida, sóbria, mas profundamente humana. Para terminar o triângulo Holden, que transborda perfeição em sua figura cínica que não se redimira as historias de ilusões e amor que sustenta Betty Shaefer.

Esse filme tirou a aureola mítica do mundo de glamour e perfeito que se exibia nas telas. Doeu aos representantes de Hollywood porque certamente representava seu mundo, o das estrelas acabadas, a tirania da beleza e os grandes estúdios. Custa-me crer que De Mille aceitaria participar num projeto cruel poderia repercutir em sua carreira, já que representava o espírito do filme: Hollywood é um engano.

Wilder alem de ser um excelente diretor era um cinéfilo como poucos. Isso se ver em todas suas obras, mas particularmente em esse filme, que é um compendio de homenagens, ainda que reprimidas, ao mundo onde vivia Hollywood, que tão logo se cria uma estrela como também a converte em monstro.

Definitivamente, Wilder orquestrou uma doce vingança contra todos os produtores e cineastas que tinha raiva, por considerar artistas aqueles que davam mares de dinheiro aos estúdios, quando não tinham idéia nenhuma da merda que era o cinema.


Resumindo, “O Crepúsculo dos Deuses” é de uma genialidade sem igual de um mestre único que sim soube fazer um grandioso cinema.
Em minha humilde opinião, O MELHOR FILME JÁ FEITO.



Nota 10000000000000000000000000000000000000000000000000000

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