quarta-feira, 18 de junho de 2008

Um Crime Americano (An American Crime)


Uma das regras da Igreja Batista Fundamentalista é a seguinte: fidelidade a fé cristã na vida diária, no trabalho, na família, na sociedade e a persistência em pregar a palavra para todas as criaturas. A senhora Gertrude Baniszewsky, viúva, doente e com 7 filhos sobre as costas, decidiu pregar com a cumplicidade de todos seus filhos sua palavra a uma inocente menina de 16 anos, à base de humilhações, torturas, mutilações e abusos sexuais, envolvendo assim todos os vizinhos de um povoado perdido de Indianápolis, no ano de 1965. A menina em questão era Sylvia Likens, que ficou ao cuidado de Gertrude junto a sua irmã menor, já que seus pais teriam que se ausentar por uma temporada devido ao trabalho. Crasso erro. Estavam deixando suas filhas na mão do mal personificado, o mal de uma sociedade que justifica os fatos argumentando que tais castigos são necessários para salvar uma alma perdida.

Poderia ser o argumento de um filme de horror, porem ocorreu nos EUA. Num autêntico e despiedoso crime americano. Sob a pele do horror do resultado final desprendem vapores nauseabundos da repressão sexual, os ensinamentos dos ignorantes a base de surras e humilhações, a imposição férrea de idéias cristãs travestidas em regras fundamentalistas e sobre tudo ilogicidade do ser humano quando a violência se apodera dele e já não pode parar.

Ao assistir, somos surpreendidos por suspiros para aliviar a sensação de náusea enquanto o corpo busca se acomodar na poltrona, que nos obriga a presenciar como quase todo um povoado tortura uma menina inocente. A lista de abusos são intermináveis, ainda que Tommy O’Haver nos mostra uma grande parte do que aconteceu, tão só estamos na ponta do iceberg. Se colocarmos-nos a investigar um pouco, constatamos que os próprios habitantes de Indianápolis considerou esse crime como o mais dantesco perpetrado contra uma pessoa em toda sua historia e o que sofreu a menina passa do limite do suportável. Por isso O’Haver evita que nos revoltemos além da conta e nos mostra o necessário para darmos conta do que podemos ser capazes de fazer em nosso mundo supostamente civilizado e democrático.

Custa falarmos de outra coisa que não seja a historia, porem tenho que ressaltar o magnífico trabalho de Catherine Keener como Gertrudes e de Ellen Page como Sylvia. O choque entre as duas é colossal, mas Keener ganha, porque seu olhar frio, perdido e acolhedor consegue o efeito desejado.

Um Crime Americano é um filme necessário em nosso tempos, no qual a tortura e a humilhação são justificados com fins políticos e que supostamente o correto eticamente sempre mora no ocidente, ainda que ver o filme nos embrulha o estômago.

Nota 9

Um comentário:

Igor Palhares disse...

O filme da minha vida.