sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Taxidermia


Pálfi, um dos novos e promissores cineastas húngaros, volta a nos surpreender com seu experimento cinematográfico Taxidermia.

O objetivo de Taxidermia é transgredir, algo que consegue do inicio ao fim. Mas não recorre a isso de forma gratuita.

Trata de romper tabus.

Faz uma critica ao valores da sociedade húngara (e mundial) desde a segunda guerra mundial até nossos dias. Para isso, envolve magistralmente três histórias onde existe uma clara experimentação sobre a utilização de alguns padrões dos gêneros cinematográficos.

Na primeira, expõe um relato que se debate entre a realidade e a ficção, narrado em forma de conto, onde intercala elementos próprios da animação. Na segunda, o relato responde as características de filme histórico-documental. Por ultimo, entra nos caminho da ficção cientifica. De tal forma que rompe primeiramente com os tabus sexuais, critica duramente os valores sociais do comunismo na Hungria e no final manda à merda todos os valores da sociedade contemporânea.

Seu objetivo é provocar.

Com sua atitude de denuncia, incita a reflexão, expondo sem pudores tudo aquilo que não estamos acostumados. Relembra artistas e pensadores como Baudelaire, Flaubert ou Lautrèamont em seu objetivo de criticar a sociedade desde o grotesco até o desagradável,'o proibido'. Legados que retomaram tantos outros artistas do século XX por desmaterializar a arte e criar obras utilizando vísceras, desde Schiele ate Duschamp.

Pálfi, consegue algo difícil nesse filme, o nojento e o sórdido se converte em algo belo e sublime. Mas encontrar alguém que saboreie o repugnante e que saiba ver nele algo bonito não é uma tarefa simples, o normal é encontrar milhares de detratores. Assim que, uma pessoa enganada por uma fotografia ‘à La Jeunet’, que acredita estar frente a um filme de autor, terá que pegar uma sacola de plástico para poder vomitar ao ver tão asqueroso espetáculo, no qual incluem masturbações em cadáveres de animais, automutilações e concursos no qual se disputa quem come mais.

Mas quem aprecia o gore mais fácil e barato, encontrara um produto muito elaborado para seu gosto, inclusive pretensioso, com planos perfeitos para o gênero e simbologias incompreensíveis e gratuitas.

Para ver a beleza nesse filme, terá que ter chorado em Le fabuleux destin d'Amelie Poulain e rido em Bad Taste, ter visto poesia nos anzóis dentro das pessoas em The Isle ou ter em Miike um referencial para o cine moderno.

O filme é intensamente sórdido, sim, mas também imensamente belo em sua asquerosidade, como uma pintura negra de Goya. Ainda que nem todos estão preparados para ver-la, aqui encontra-se uma obra prima; difícil, dura, sórdida, porem uma obra-prima.


Nota 9

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