terça-feira, 6 de novembro de 2007

The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford - O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford


Inconsistência narrativa, pretensões descomunais e somente algumas partes satisfatórias, minimalismo frívolo e vão... Falarão do tédio, de intermitências.
Tudo isso pode ser perfeitamente válido e justificado. Não posso dizer que estão errados quem opinem tais coisas.

Mas eu fico com o bom: fico com as três horas que se devoram, com um detalhe na planificação das cenas que quase chega ao orgasmo para aqueles preocupados na composição dos planos, o tempo triste, as cenas pausadas, serena, áridas... Os rostos e a fotografia; o céu e o vestuário.

É um filme sobre Bob Ford e não Jesse James; conta o que passa na cabeça dos personagens (inveja, admiração, ânsia de gloria, humilhação... por parte de Ford. Desvarios por parte de James), não conta roubos ou assassinatos (isso Walter Hill já fez); não nos da uma versão maniqueísta da lenda (isso Fritz Lang já nos deu).

Narrar um western através de tempos mortos é, ademais de arriscado, uma mostra de valentia e compromisso, de convicção e confiança, sobretudo de confiança no espectador. Portanto trata o espectador de igual pra igual, que explica mais uma vez o que nossos olhares e gestos pediram que contassem mais uma vez, mas agora pelo lado de dentro, desde o instável psicológico de um dos personagens torturado e maltratado; desde as nuvens interpondo-se mediante sombras proféticas entre o sol e o trigo.

Sobra grande parte das peripécias ao restante do grupo? Nem prestei atenção... Com esse final, com esse James claudicando, vencido pela paranóia; esse James cansado de dormir sem dormir, agarrado ao revolver com gravetos secos no lugar dos dedos, olhando através de pálpebras sem cor. Com esse Ford marcado pra sempre pela covardia de um ato, de apenas um segundo (o pulso de Dominik na cena do assassinato é espetacular).

O mito de Jesse James é triste e frio; a covardia de Ford é quente e humana. Mas ambos protagonistas, com seus olhares, seus rostos sem maquiagem e seus gestos, expressam com dignidade o destino dos personagens. Um destino marcado a fogo.
Affleck corre o risco de levar o prêmio de coadjuvante.
A voz em desligado, aqui tem um perfeito equilíbrio entre a narração cinematográfica e a reconstrução quase documental, ambas as coisas se encaixam e hipnotizam.


Nota 9

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