sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Foi Apenas Um Sonho (Revolutionary Road)


Em “Revolutionary Road”, Mendes volta a tratar do estilo de vida norte americano, agora muito mais depressivo e complicado que em sua obra prima, nesse novo filme perde os toques de humor que mantinha “American Beauty” como um filme mais acessível ao publico, neste filme trata temais mais crus e a diferença esta que American criticava a nossa sociedade atual, a qual não corresponde somente a um contexto americano, mas sim um mais universal, agora Mendes vai direto as bases que criaram a América: as aspirações, as esperanças vazias, a hipocrisia de uma sociedade, de pessoas que tratam de esconder suas frustrações, de dissimular seu fracasso, de manter seus demônios escondidos.

O filme é uma união dos melhores momentos de “American Beauty”, “Far From Heaven” e principalmente “Little Children”, alem de recordar vagamente “Eyes Wide Shut”, aqui vemos o que existem dentro dessas casas de fachadas perfeitas, dentro de rostos aparentemente felizes, vemos uma reflexão duríssima ao estilo de vida que o próprio EUA vendeu nos anos 50 e 60: esposos trabalhadores, mulheres perfeitas que se dedicavam a criar um par de filhos que aspiram ao mesmo, golpeia os ideais de uma nação atualmente perdida.

Muito se há dito que é um filme depressivo e que não é uma opção adequada em tempos de crise econômica e inclusive existencial que ocorrem com muitas pessoas ao redor do mundo e talvez isso seja o mais incomodo para o espectador porque nesse filme Mendes golpeia fortemente os ideais que muitos têm criado.
O casal principal (os Wheeler) representa os sonhos frustrados, ambos querem obter a felicidade a qualquer preço, April (maravilhosa Kate Winslet) esta decepcionada com ela mesma, é uma pessoa fracassada que vive uma vida que pouco a pouco vai odiando mais e que junto a Frank (excelente Leonardo DiCaprio) busca uma saída fácil tentando uma fuga para Paris e começar uma nova vida junto a sua família.

Apesar disso todos mantém uma aparentemente vida feliz, são considerados um como um casal perfeito e a cada um dos personagens tentam ocultar suas inseguranças exceto a John Givings um personagem honesto e brutal (interpretado magistralmente por Michael Shannon), ele encarrega de desencadear a tragédia, de expor a decadência, é o único que diz as coisas como elas são e ao mesmo tempo é considerado o insano e é o único considerado imperfeito dentro de uma comunidade aparentemente perfeita, Shannon em 8 minutos rouba duas das cenas mais brilhantes do filme.

A direção de Mendes é sublime, muito perto de sua obra prima, o roteiro esta ótimo e as partituras de Newman encaixam perfeitamente com as cenas do filme.
O acerto maior do filme (e talvez seja o fato que a condene ao esquecimento nos EUA) é que vão diretas as bases assim como fez “Far From Heaven”, Mendes em “American Beauty” mostrava como o estilo de vida americano estava desmoronando, em “Revolutionary Road” nos mostra que o sonho americano nunca existiu, vemos que sempre foi uma ilusão e, sobretudo vemos porque a vida tão sonha atual nunca foi possível porque estava construída sem uma base sólida, porque seus personagens nunca foram felizes.

Em “Fight Club”, Tyler Durdem mencionava:
Não sofremos uma grande guerra, nem uma grande depressão.
Nossa grande guerra é espiritual.

Alguma vez fomos felizes ou somente fingíamos ser?


Nota 10

Nenhum comentário: