
Como se não bastasse o lacrimógeno lixo panfletário que é “Em Busca da Felicidade”, indecente apologia ao capitalismo que passou inadvertida, agora Gabriele Muccino volta atacar com o farsante Will Smith que passou de delicioso comediante a um macarrônico bom samaritano. E o que dois anos atrás era seu filho, agora são 7 pessoas que ele tenta ajudar em busca de redenção e se apaixona por uma. Tem um segredo e no final todos descobrem com um giro final de efeito e que supostamente todos devemos chorar. Eu chorei, mas de pena, tal acumulo de açúcar que não é bom para uma pessoa da minha idade. Alem da enganação, o trailer prometia um drama vivaz e o que encontrei foi um ladrilho de dimensões e formas bíblicas.
A mim não causa graça não entender quase nada durante a maior parte do filme, me senti enganado quando mostram flashbacks que não posso compreender, me molesta ver um Will Smith que evidentemente sabe algo que eu não. Não consigo me envolver com um personagem triste em todo o filme mas que não sei o motivo.
“Sete Vidas” é um filme unicamente construído para comover no final. O que não entende durante todo o filme fica claro no final: porque Bem Thomas (o nome do personagem) estava triste, o que significava os flashbacks, qual era o papel do amigo de Bem, etc. Mas, o que faço com 110 minutos de duvidas? Posso voltar o tempo e me comover com o a boca semi aberta de Will Smith? Não, não posso.
É compreensível que um diretor esconda informações para conseguir comover o espectador no final, mas isso não pode ser o único objetivo. O corpo do filme tem que ter alguma forma alem da intriga, assim o espectador desfruta toda a obra e não somente o final.
Tem um elemento que considero muito importante que “Sete Vidas” carece, a sutileza. Vou relacionar esse filme com Amélie para entender o que quero dizer:
PODE CONTER SPOILERS
Onde Amélie agrada o escritor fracassado escrevendo um grafite com uma frase de sua autoria, Bem doa medula óssea a uma criança.
Onde Amélie emociona o homem de vidro mandando vídeos de Tour de France, Ben doa um pulmão a um homem.
Onde Amélie se transforma nos olhos de um cego relatando as coisas que ele não consegue ver, Bem doa seus olhos a um cego.
Onde Amélie desfruta do fato de encontrar o amor sentindo o ar fresco sentada em uma motocicleta acompanhada de seu namorado, Bem se suicida para doar o coração para a namorada.
A única forma de redimir sua culpa é doando órgãos? Não poderia fazer o bem de uma maneira mais sutil?
Por isso Amélie é fabulosa e “Sete Palmas” é tenebrosa.
Algumas criticas dizem sobre o bom coração que esse filme tem.
É certo mutilar seu corpo para salvar vidas de outras pessoas? O suicido deixa de ser algo terrível quando se transforma em suicídio altruísta?
Esta claro que não. Com a avalanche emocional que desprende no fim do filme esquecem de algo: Ben Thomas também é um ser humano. Por mais que julgue ser Deus, avaliando se uma pessoa é digna ou não de receber seus órgãos, é um ser humano e sua morte é tão terrível como a de qualquer pessoa.
Nota 0