segunda-feira, 7 de abril de 2008

Be Kind Rewind


No começo custa entrar no filme, devido a trama, o tom usado, etc, mas uma vez dentro já não queremos mais sair.

Um dos pontos fortes é a constante referências a milhares de filme com o qual crescemos: o pôster de Blast From the Past - casualidade? Não se aproximam os protagonistas no cinema como Brendan Fraser ao amor? – a louca que precisa assistir Conduzindo Miss Daisy e todos os filmes que os protagonistas recriam (Jack Black se magnetiza e apaga todos os VHS da locadora de seu amigo, fato que leva eles a filmar novamente com câmera na mão, de um modo totalmente amador mas super original e gracioso): Os Caça-fantasmas, Robocop, O Rei Leão, De Volta Para o Futuro, Rush Hour 2, 2001 – Uma Odisséia no Espaço, etc... É aqui onde todo o talento e imaginação visual de Gondry alcança o melhor rendimento e onde mais desfrutei como uma autêntica criança, igual a ele, que alguns anos atrás se deliciava com as viagens lunares de Méliès.


Não creio que com Be Kind Rewind, Gondry pretenda rir dos filmes comerciais (talvez por isso o filme acaba sendo mais comercial do que o diretor nos acostumou) e todos esses deliciosos filmes dos anos 80 e cia., se não a comercialização impessoal desses filmes (que por outra parte, é a único que os financia e permite sua existência). Parece que diz: os filmes como Robocop me fascina, gosto tanto que quero render homenagem, o que não gosto é o marketing que os rodeia, o mercado que corta o vôo de todos esses artistas (pensem no personagem de Sigourney Weaver). Cospem na mão que os alimentam, igual Clube da Luta. Reinvidica o cine como uma arte livre desde uma multinacional, porque é o meio que permite fazer em grande escala. As mesmas contradições de sempre, a mesma velha dicotomia arte/indústria do cinema.

Fats Waller era um artista do jazz que fez de sua arte sua vida, apesar de todos os inconvenientes. Michel Gondry é Fats Waller (esse pianista com mãos de ouro ignorado pela crítica) e Mos Def é Michel Gondry que, apoiando-se sobre tudo que ele alimentou em seu início, acaba emergindo como um deus/criador de um maravilhoso mundo imaginário, tão maravilhoso como esse documentário sobre um Fats Waller imaginário que viveu em Passaic, Nova Jersey.

A sim, o filme também é uma deliciosa comédia.

Não contente com isso, Michel Gondry levou essa espécie de 'metacine' até o paradoxismo na NET; explico: Be Kind Rewind, trata de dois caras que reinterpretam os filmes comerciais de forma amadora e alcançam um êxito sem precedentes, com todas as conseqüências negativas/positivas que algo assim poderia desencadear?

Então, circula no Utube um vídeo que o próprio Gondry nos faz crer que Be Kind Rewind foi apagado e a continuação ele reproduz com câmera na mão no estilo Def/Black. Cinema que versiona cinema que estava versionando cinema.

O melhor é que já circula pela internet milhares de versões be-kind-rewinderas de clássicos do cinema comercial... Michel Gondry acabará democratizando o ato criativo cinematográfico? Talvez, porém os gênios continuarão nascendo a conta-gotas.

Curiosa a raiva que senti ao ver como acusam Mos e Jack de plágio, sentimos que no fundo estão roubando eles, que cortaram as asas a dois sonhadores, algo parecido sentiria Gondry quando no mundo real proibiram ele de incluir ‘homenagens’ a vários filmes, por direitos autorais e essas besteiras da lei, destruindo assim várias possibilidades do filme.

Feito, que por certo, me parece absurdo, já que a conversação que os três protagonistas mantém na cafeteria sobre O Rei Leão animará muito mais pessoas a ver o dito filme que milhares de intentos por parte dos encarregados de marketing da própria Disney.

Nota 9

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