domingo, 16 de dezembro de 2007

The Brave One - Valente


Os espectadores acostumados a assistir filmes fáceis, nos quais os bons são muito bons e os maus são extremamente malvados ou filme simples e apto para os encefalogramas planos de uma elevada porcentagem da audiência surpreende encontrar um filme como esse, que se arrisca e treme na fina linha que mostra essa parte de nos mesmos que temos medo de aceitar e inclusive mostrar.

O melhor de “The Brave one” é o risco do roteiro, assim como a prodigiosa capacidade de prender o espectador numa teia emocional com o único fim de conduzi-lo a um clímax final perfeito medido e estudado e ‘valente’ resolução.

A estupenda atuação de Foster consegue transmitir a lenta e profunda mutação sofrida por uma mulher submetida à poderosa ameaça do medo irracional e como isso se deterioração vai despedaçando os valores morais e transformando o individuo em algo mais perto que um animal irracional que um ser humano. Essa progressiva destruição acompanha uma carga emocional projetada através da visão do policial, que assiste sem conhecer as causas reais, mas entrando de forma evidente na questão e sem duvidar nenhum momento em oferecer apoio a protagonista.

Jordan dirige o filme com mâo de ferro e sem fissuras que faz que o espectador participe do surpreendente prazer que proporciona a vingança. Um prazer imoral, mas absolutamente inevitável frente um processo tão evidente de deterioração emocional. O arriscado do filme é manter essa mão de ferro ate o delicioso final, onde, num equilíbrio no fio da navalha entre o justo e o injusto, a moral e o imoral, o obvio e o surpreendente, o espectador descobre um pavor que é o dilema de ser moral o tempo todo e se converter em alguém puramente emocional.

O filme não justifica nada, essa seria uma visão simplista do assunto. O incorreto segue evidente diante os nossos olhos. O pavoroso é quanto à fragilidade desmorona nossa humanidade diante de situações limites. Devemos crer no sistema e na justiça se queremos viver em sociedade, mas, em nosso interior, o direito natural a vingança (que nos é proibido por mostrar nossa necessidade de convivência e nossa consciência de seres civilizados) sempre a espreita. Porque ainda que nosso intelecto e nossa ética nos impulsionem (ou ao menos deveria nos impulsionar sempre) a fazer o correto (fato louvável que nos converte em animais racionais), como seres humanos, nossa parte irracional segue ali, no mais profundo... E às vezes sai, e não sabe da moral, nem da justiça, nem da paciência e é incontrolável.

Totalmente incontrolável.


Obs: alguém tem um revolver pra vender...

Nota: 8

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