domingo, 1 de fevereiro de 2009

O Leitor (The Reader)



“O Leitor” não é uma historia sobre amor impossível entre um adolescente e uma mulher madura, também não é um drama judicial com o nazismo como pano de fundo, é muito mais, é uma perfeita metáfora sobre o doloroso e ambíguo sentimento que da sociedade alemã frente ao seu passado nazista. Michel, o protagonista do filme não só é um jovem doente socorrido por uma atraente mulher, como representa a enferma sociedade alemã pós-guerra. Por sua parte, Hanna não só é a ignorante e maternal mulher que seduz Michael, ela representa a promissora pátria nazista, a pátria mãe.

Depois do idílio vem à crua realidade, o que essa mulher foi capaz de fazer?
Michael como a sociedade alemã ante à contemplação dos campos de extermínio esta confuso: como essa atrativa, bondosa e complacente mulher que lhe seduziu e ajudou quando mais necessitava foi capaz de cometer semelhante crime? A reposta somente pode ser uma, por trás do choro desconsolado e a decepção, somente fica a autocrítica e o peso do passado.

Diante tudo isso esta Stephen Daldry para demonstrar porque ganhou o respeito tanto da critica como do publico. Com “Billy Eliot” emocionou, com “As Horas” mostrou seus dotes dramáticos e como “O Leitor” esta pronto para agitar consciências. O filme se divide em duas partes claramente diferenciadas. Tanto que até que chegue o final custa crer que formem parte do mesmo discurso. A primeira metade nos apresenta a relação amorosa dos protagonistas, gosto das primeiras cenas como a historia contada em flashback, com cenas cheia de sensualidade e um ar fino e intrigante, as vezes cai o ritmo, mas por sorte temos Kate Winslet, que enche a tela todo o tempo.

Na segunda metade ela já não aparece tanto, mas é quando o filme da o sentido e é aqui que muitos filmes fracassariam estrepitosamente. Mas “O Leitor” cresce ante a adversidade e consegue construir a metáfora num tema extremamente complicado para tratar com tamanha delicadeza.

A aparente simplicidade do filme é uma excelente arma de combate e da liberdade do autor para desenvolver com total liberdade um sólido discurso que fala do amor, da culpa, da memória e da responsabilidade histórica.

O que realmente nos traumatiza costuma ser algo que levamos enraizado no mais profundo da alma. Ainda que às vezes lembremos do ocorrido sempre tampamos com um véu espesso e pensar em contar para alguém transforma tudo em utopia. Acostumamos esconder nossos traumas e inseguranças de tal forma que nem os mais próximos são capazes de saber. Possivelmente com o tempo e dependendo do trauma percebemos que algo esta errado, mas a própria pessoa se encarregara que isso não se supere, nunca seja descoberto com certeza. Essa mesma pessoa enfrentara situações e problemas piores, vistos objetivamente, porem sem conseguir essa intimidade que alcança com pequenos traumas que leva consigo grande parte de sua vida, podendo provocar que cometam outros erros que não seja tão grave para não admitir o primeiro problema.. É como um segredo de amigos, mas dentro de si, que em vez de alimentar a confiança em ambos, alimenta a frustração da pessoa impedindo dar passos necessários para corrigir-los, se é que fosse possível. O que esta claro é que não admitira nunca e o dia que o faça já o tenha superado.

Com tudo isso Daldry nos brinda com um produto inteligente que nos faz pensar, que mantém distância de tendências maniqueístas e que oferece uma infinidade de leitura.

Nota 10

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