quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O Clube (El Club)

Poucas coisas me dão mais medo do que aquelas pessoas que confessam alguma brutalidade como a firme convicção de que estão fazendo o que tem que ser feito, que Deus (ou quem seja) os colocaram ali precisamente para isso. Há razões para justificar qualquer feito, qualquer crime, eles dizem. Cada um busca sua própria moral, dentro da faixa de opções que confundem os conceitos do bem e do mal, para aliviar sua consciência e poder viver consigo mesmo. E a religião tem sido, sem duvida, a justificativa ‘perfeita’ em toda a história da humanidade. A igreja católica, a mesma que várias vezes tem sido alvos de diversos escândalos por dar proteção a vários padres que realizam praticas indecentes, sempre pela salvação e a boa imagem de um bem maior, claro, a igreja em si. Quantas atrocidades se cometem em nome da religião? Pablo Larraín coloca a resposta na tela da forma mais desagradável e perturbadora possível, destilando inteligência, sarcasmo e claustrofobia. Se fosse descrever o filme em uma palavra, seria angustia. Desde o primeiro plano, com esses acabamentos difusos, ambiente húmido, névoa constante e frio; incomodando imediatamente o espectador. Sensação que contrasta com a clareza que os fatos são resolvidos e o estilo de diálogos, sempre muito direto. Tudo com um ritmo pausado, que te vai levando pelos acontecimentos que ocorrem entre 4 padres e 1 ‘freira’ que estão reclusos numa casa, num vilarejo costeiro do Chile, onde fazem suas penitencias secretas pelos crimes cometidos. Eles procuram suas própria justificação, mas Larraín não se envolve em julgamentos morais, não apresenta discurso de nenhum tipo, apenas expõe. E o que mostra é o inferno com vista pro mar. “El Club” é um dos filmes mais assustadores que já vi, sem gritos, sem fantasmas, com toques inesperados de humor e sarcasmo que o tornam ainda mais preocupante. O terror esta presente na forma mais brutal, mas terrível: com as pessoas e suas misérias. Gente de carne e osso, que se deixaram levar por uma moral perturbadora e aí cada qual que emita seu julgamento. Oxalá, “Spotlight – Segredos Revelados” tivesse a coragem deste filme que não esconde nada e mostra um mundo cruel, sórdido e infelizmente verdadeiro.