domingo, 18 de janeiro de 2009

Sete Vidas (Seven Pounds)



Como se não bastasse o lacrimógeno lixo panfletário que é “Em Busca da Felicidade”, indecente apologia ao capitalismo que passou inadvertida, agora Gabriele Muccino volta atacar com o farsante Will Smith que passou de delicioso comediante a um macarrônico bom samaritano. E o que dois anos atrás era seu filho, agora são 7 pessoas que ele tenta ajudar em busca de redenção e se apaixona por uma. Tem um segredo e no final todos descobrem com um giro final de efeito e que supostamente todos devemos chorar. Eu chorei, mas de pena, tal acumulo de açúcar que não é bom para uma pessoa da minha idade. Alem da enganação, o trailer prometia um drama vivaz e o que encontrei foi um ladrilho de dimensões e formas bíblicas.

A mim não causa graça não entender quase nada durante a maior parte do filme, me senti enganado quando mostram flashbacks que não posso compreender, me molesta ver um Will Smith que evidentemente sabe algo que eu não. Não consigo me envolver com um personagem triste em todo o filme mas que não sei o motivo.

“Sete Vidas” é um filme unicamente construído para comover no final. O que não entende durante todo o filme fica claro no final: porque Bem Thomas (o nome do personagem) estava triste, o que significava os flashbacks, qual era o papel do amigo de Bem, etc. Mas, o que faço com 110 minutos de duvidas? Posso voltar o tempo e me comover com o a boca semi aberta de Will Smith? Não, não posso.

É compreensível que um diretor esconda informações para conseguir comover o espectador no final, mas isso não pode ser o único objetivo. O corpo do filme tem que ter alguma forma alem da intriga, assim o espectador desfruta toda a obra e não somente o final.

Tem um elemento que considero muito importante que “Sete Vidas” carece, a sutileza. Vou relacionar esse filme com Amélie para entender o que quero dizer:


PODE CONTER SPOILERS


Onde Amélie agrada o escritor fracassado escrevendo um grafite com uma frase de sua autoria, Bem doa medula óssea a uma criança.

Onde Amélie emociona o homem de vidro mandando vídeos de Tour de France, Ben doa um pulmão a um homem.

Onde Amélie se transforma nos olhos de um cego relatando as coisas que ele não consegue ver, Bem doa seus olhos a um cego.

Onde Amélie desfruta do fato de encontrar o amor sentindo o ar fresco sentada em uma motocicleta acompanhada de seu namorado, Bem se suicida para doar o coração para a namorada.

A única forma de redimir sua culpa é doando órgãos? Não poderia fazer o bem de uma maneira mais sutil?

Por isso Amélie é fabulosa e “Sete Palmas” é tenebrosa.
Algumas criticas dizem sobre o bom coração que esse filme tem.

É certo mutilar seu corpo para salvar vidas de outras pessoas? O suicido deixa de ser algo terrível quando se transforma em suicídio altruísta?

Esta claro que não. Com a avalanche emocional que desprende no fim do filme esquecem de algo: Ben Thomas também é um ser humano. Por mais que julgue ser Deus, avaliando se uma pessoa é digna ou não de receber seus órgãos, é um ser humano e sua morte é tão terrível como a de qualquer pessoa.

Nota 0

domingo, 11 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button)


Tic tac, tic tac, tic tac, um novo relógio começa funcionar. Tac tic, tac tic, tac tic, o relógio funciona ao contrário. No novo filme de David Fincher o relógio biológico de Benjamim Button funciona no ritmo do tac, tic e é a chave da equação. Gostaria de pensar o que ocorreria se não houvesse introduzido na formula mágica esse ingrediente. Enquanto assistimos as vezes esquecemos desse elemento enquanto contemplamos a historia de uma vida. Mas esse conto já me contaram e o resultado final é apenas um agradável ‘déja-vu’.

De novo Fincher faz uso da filmagem digital e com isso perde um certo sabor e priva o espectador, teria ficado infinitamente mais bonita se filmasse em película.

Assisti ao filme com os nervos a flor da pele porque escutei sobre ela desde o principio, sabia muita coisa e esperava uma maravilha ou algo perto disso. Desejava com toda minha força, porque é uma historia que parece ter tudo para emocionar, a sensação final é boa, mas em geral uma lástima, não me comoveu em nenhum momento.

O filme trata da coisa mais escorregadia de todas no decorrer de uma vida e a falha principal eles não conseguiram equilibrar, o tempo. A larga duração não pesou em nenhum momento, mas o roteiro e a edição não funciona como deveria para construir um filme redondo sobre momentos vividos e momentos perdidos.

A primeira hora, que precisamente é a parte da vida de Benjamim em que Fincher e Roth mais se detém é a mais apagada e menos interessante, apenas vi a peculiar infância de uma criança, por muito que a Digital Domain fez maravilhas com um Brad Pitt envelhecido.

Tem um correto uso de efeitos especiais. A utilização da luz é inerte e manipulada. Tudo esta inflado, muito medido e por causa disso perde emoção real.

Mas a magia ausente dessa trama é a que se apodera em outras partes conseguindo falta de fôlego no episódio com Tilda Swinton, quando conta o romance de Benjamim e Daisy e nos minutos finais. O resto é bom, mas longe da excelência e em grande parte devido a velocidade que conta tudo que não nos deixa desfrutar de boas emoções. Não é assim muitas vezes na vida? Pode ser, mas não deixo de pensar que poderia ser melhor.

Tem um correto uso de efeitos especiais. A utilização da luz é inerte e manipulada. Tudo esta inflado, muito medido e por causa disso perde emoção real.


Reminiscências de “O Curioso Caso de Benjamin Button” com “Forrest Gump”:
-Forrest e Benjamim nascem com um problema.
-Ambos conhecem a mulher de sua vida durante a infância.
-Ambos vão à guerra.
-Ambos trabalham em um barco.
E o mais importante:
-Ambos roteiros escreveu Eric Roth.

Nota 8

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Milk - A Voz da Igualdade (Milk)


Gus Vant Sant deixa claro ao principio do filme quem é o que aconteceu a Harvey Milk, todos que buscou informação de alguma ou outra forma sobre quem foi H. Milk sabe sobre seu final, assim que não é surpresa as cenas que o diretor apresenta no inicio.

“Milk” conta a historia do primeiro político abertamente homossexual que conseguiu obter um cargo publico nos EUA, e com essa premissa Van Sant constrói uma das melhores biopics dos últimos anos.

A direção de Van Sant é genial e um dos grandes acertos é conseguir combinar os fatos interpretados pelo elenco incluindo toques com estilo documental (imagens próprias dos anos 70) e o melhor é que funciona e de excelente forma.

Mas o ponto forte desse filme é Sean Penn, com umas das melhores atuações do ano, sua caracterização é surpreendente, os gestos e a forma de falar que ele adota mostram uma grande dedicação da parte do ator para construir um papel extremamente complicado.

Mas o que mais surpreende é que há cinco anos atrás se alguém houvesse dito que Sean Penn seria capaz de criar um personagem totalmente ameno, ninguém poderia crer, não porque não o considere um ator de qualidade (talvez um dos melhores de sua geração), mas sim, comparando com seus outros papeis e por suas aparições publicas parecia difícil de conseguir, mas fez e perfeitamente.

O elenco todo esta excelente, começando por Josh Brolin no papel de Dan White (o assassino de Milk) sua caracterização é espetacular igual que sua interpretação, igualmente James Franco em seu primeiro papel bem interpretado (junto à “Pinneapple Express”) e uma menção a Emile Hirsch, Luna esta correto, mas é o menor de todo elenco.

O roteiro esta bem elaborado, igual que seus aspectos técnicos desde uma trilha sonora original a cargo de Danny Elfman assim com a excelente montagem e fotografia.

A forte critica que realiza Van Sant à homofobia e a dupla moral norte americana é excelente, apresentando os opositores de Milk, criadores da emenda numero seis com material extraído de filmotecas, apresentando os verdadeiros personagens sem necessidades de ser interpretado por atores.

Milk foi um herói para a comunidade homossexual por defender seus direitos e de alguma maneira tratou de abriu portas, portas que décadas depois seguem fechadas não só para os homossexuais e não só na política e sim para muitas pessoas em diversos aspectos da vida atual, mas no final Milk não só representa as lutas pelos direitos a romper barreiras representar a luta de cada um, seja qual sua condição social, etnia, etc., por uma vida melhor.

Em certas partes do filme podemos ver uma pessoa mencionando que não apóia a emenda porque quer que seus filhos entendam que temos que respeitar que com as diferenças no final todos somos iguais, sem racismo, homofobia e discriminação, talvez por isso que Milk não seja um filme para todos, mas sim para um publico com uma mente aberta porque algumas dessas pequenas verdades continua vigentes e espero que um dia tudo mude.

Milk é um dos melhores filmes do ano e o único que Van Sant combina seus toques de cine indie com a estética e narrativa de seus filmes para maiores audiências.


Nota 10

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Slumdog Millionaire



Muito se fala desse filme, ganhou muitos prêmios e isso gera expectativas no publico, mas ao assistir tudo se cumpre “Slumdog Millionaire” deixa o melhor sabor na boca da temporada com sua formula brilhante e original de expor um curioso caso e um pitoresco jovem: Jamal. Desde “Trainspotting”, não se via um Danny Boyle tão potente e inclusive diante dessa nova produção, Boyle se desculpa pela instabilidade do passado e nos oferece o melhor trabalho de sua carreira. Como é habitual, o mais atraente do filme é a formula utilizada por Boyle para dirigir, uma formula que consegue um ritmo impressionante, que não entedia, não cai, diverte e sobre tudo aporta algo ao telespectador, uma mensagem de esperança tão positiva que de imediato fica entre uma das melhores dos filmes indies da historia do cinema.

Um elenco fabuloso, a reconstrução do personagem Jamal é acertada, apresentando desde a infância, da mão de Ayush Mahesh Khedakar, não sentia uma ternura tão inesquecível com um personagem infantil desde Toto de “Cinema Paradiso”, Tanay Chheda se ocupa da pré-adolescência de Jamal e um Dev Patel sensivelmente assombroso que equilibra o personagem. Em Patel encontramos a grande revelação de ator do ano. O resto do elenco seduz com a beleza exótica de Freida Pinto (Latika).

Tecnicamente é uma das obras mais solventes, Anthony Dos Mantle (fotografia) realiza um trabalho tão genuíno como impressionante, não se via uma força vital tão potente desde “Cidade de Deus”, a edição desenha uma formula tão efetiva que compacta a perfeição das cenas e a musica é tão excitante que engrandece cada momento da trama, simplesmente genial nos quesitos técnicos e ainda mais extraordinária a idéia que está elaborada por supostos desconhecidos.

Eventualmente aparece diante de nossos olhos filmes que quase sem avisar reavivam a esperança no cinema moderno, agradáveis surpresas que alimentam de forma natural o coração de meio mundo dentro do insípido panorama cinematográfico. Slumdog obra que poderia parecer com a modesta e pouco conhecida “Millions” é uma maravilhosa odisséia espaço temporal que misturada com uma bela historia de amor fecunda um desenho desolador de uma Índia tristemente linda e pobre, uma ambigüidade que Boyle mostra num frenesi rítmico um mosaico audiovisual impressionante e virtuoso, uma jóia que explode em sua esplendorosa direção multi-ângulos.

“Slumdog Millionaire” funciona em todos os aspectos, como obra moral com uma poderosa mensagem no fundo, como uma homenagem a vida e a alegria, como um ritual sagrado ao amor e sobre tudo como um hino à perseverança.

Nota 10

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Foi Apenas Um Sonho (Revolutionary Road)


Em “Revolutionary Road”, Mendes volta a tratar do estilo de vida norte americano, agora muito mais depressivo e complicado que em sua obra prima, nesse novo filme perde os toques de humor que mantinha “American Beauty” como um filme mais acessível ao publico, neste filme trata temais mais crus e a diferença esta que American criticava a nossa sociedade atual, a qual não corresponde somente a um contexto americano, mas sim um mais universal, agora Mendes vai direto as bases que criaram a América: as aspirações, as esperanças vazias, a hipocrisia de uma sociedade, de pessoas que tratam de esconder suas frustrações, de dissimular seu fracasso, de manter seus demônios escondidos.

O filme é uma união dos melhores momentos de “American Beauty”, “Far From Heaven” e principalmente “Little Children”, alem de recordar vagamente “Eyes Wide Shut”, aqui vemos o que existem dentro dessas casas de fachadas perfeitas, dentro de rostos aparentemente felizes, vemos uma reflexão duríssima ao estilo de vida que o próprio EUA vendeu nos anos 50 e 60: esposos trabalhadores, mulheres perfeitas que se dedicavam a criar um par de filhos que aspiram ao mesmo, golpeia os ideais de uma nação atualmente perdida.

Muito se há dito que é um filme depressivo e que não é uma opção adequada em tempos de crise econômica e inclusive existencial que ocorrem com muitas pessoas ao redor do mundo e talvez isso seja o mais incomodo para o espectador porque nesse filme Mendes golpeia fortemente os ideais que muitos têm criado.
O casal principal (os Wheeler) representa os sonhos frustrados, ambos querem obter a felicidade a qualquer preço, April (maravilhosa Kate Winslet) esta decepcionada com ela mesma, é uma pessoa fracassada que vive uma vida que pouco a pouco vai odiando mais e que junto a Frank (excelente Leonardo DiCaprio) busca uma saída fácil tentando uma fuga para Paris e começar uma nova vida junto a sua família.

Apesar disso todos mantém uma aparentemente vida feliz, são considerados um como um casal perfeito e a cada um dos personagens tentam ocultar suas inseguranças exceto a John Givings um personagem honesto e brutal (interpretado magistralmente por Michael Shannon), ele encarrega de desencadear a tragédia, de expor a decadência, é o único que diz as coisas como elas são e ao mesmo tempo é considerado o insano e é o único considerado imperfeito dentro de uma comunidade aparentemente perfeita, Shannon em 8 minutos rouba duas das cenas mais brilhantes do filme.

A direção de Mendes é sublime, muito perto de sua obra prima, o roteiro esta ótimo e as partituras de Newman encaixam perfeitamente com as cenas do filme.
O acerto maior do filme (e talvez seja o fato que a condene ao esquecimento nos EUA) é que vão diretas as bases assim como fez “Far From Heaven”, Mendes em “American Beauty” mostrava como o estilo de vida americano estava desmoronando, em “Revolutionary Road” nos mostra que o sonho americano nunca existiu, vemos que sempre foi uma ilusão e, sobretudo vemos porque a vida tão sonha atual nunca foi possível porque estava construída sem uma base sólida, porque seus personagens nunca foram felizes.

Em “Fight Club”, Tyler Durdem mencionava:
Não sofremos uma grande guerra, nem uma grande depressão.
Nossa grande guerra é espiritual.

Alguma vez fomos felizes ou somente fingíamos ser?


Nota 10

Queime Depois de Ler (Burn After Reading)


Um agente da CIA que foi despedido, enquanto sua mulher mete uns cornos com outro agente do tesouro. Uma funcionaria de uma academia que deseja de qualquer maneira submeter-se a algumas cirurgias plásticas e seu colega, um imbecil fanático por fitness. Se fosse pouco, toda rede de ‘inteligência’ das agencias governamentais que tentam descobrir o que realmente esta acontecendo, sem conseguir. Assim é a ultima genialidade dos irmãos Coen. Comparando sua filmografia Queime depois de ler, é uma bizarra mistura de Fargo e O Grande Lebowsky; do primeiro herda sua sátira sobre a sociedade contemporânea, sobre suas misérias e pecados; do segundo herda o surrealista sentido de humor, uns diálogos que passarão para a historia e uma galeria de personagens ridículos, desde o analista do governo com problemas de alcoolismo que tentar transpor o divorcio fazendo aeróbica com a televisão no seu barco, até o entediado agente judicial que nos seus momentos livres faz apetrechos sexuais enquanto busca contatos para enganar sua esposa e amantes através de paginas na internet.

O filme é cruel e desconcertante, pela crueza que os Coen não deixa encaixar a historia ate quando eles queiram, dando um exemplar domínio de direção. Uma vez que o filme entra num frenético segundo ato, reproduz o efeito acumulativo de uma bola de neve, aumentando a cada seqüência às reviravoltas do roteiro que provoca um caos tragicômico que é uma verdadeira lição magistral de como fazer cinema. Assim, o espectador se emociona, ri nos obriga a olhar a um grandioso espelho onde podemos ver quanta mesquinhez temos nós pobres mortais, sempre em busca da felicidade, do bem estar, da compreensão, da estabilidade, quando na realidade isso tudo é uma cama de gato que não tem quem entenda. Nem sequer a CIA.
Excelente roteiro, trilha sonora que adiciona perfis de suspense e grandeza épica a historia, dando um componente francamente decadente e as interpretações de Brad Pitt e George Clooney, dois belos atores que são capazes se sobrepor o estrelato e glamour, para nos entregar dois hilariantes e estúpidos personagens.

Nota 9