terça-feira, 27 de novembro de 2007

D-War - Dragons War


Sempre que se fala da magia do cine da à sensação de que se trata de uma besteira um tanto cafona que serve como pretexto para justificar, ou pelo menos tentar, qualquer desastre bem-intencionado ou não, que apareça na tela.

Apesar disso, filme como esse parece que ocupa e vem dar razão a algo de intangível que consiga que produtos tão ruins prendam nossa atenção e inclusive desfruta que um pouco de tempo bobo.

Que existem deficiências no conjunto é evidente. O roteiro parece ser uma mistura de Godzilla e A Idade do Fogo, estética digna de filme de Jackie Chan, diálogos com filosofia de biscoitos da sorte de qualquer restaurante oriental e atores desnecessários.

Mas o pior sem duvida é a evidente escassez de dinheiro.
Apesar disso o da pra ver por acaso, porque o filme não se leva a serio, o ritmo é adequado e apesar dos déficits visuais tem uma seqüência bacana, a batalha na cidade que é notável.

Seguramente contrataram uns 15 nerds com um Pentium II e o 3D Max e a foder, já que não tem muito sentido. Em uma cena, tem uma serpente se contorcendo contra um edifício, vemos cair pedras como parte da animação, mas a parede continua intacta.
Isso é aplicável em quase todo o filme: efeitos como as aparições das espadas, o mais irônico é que os dragões não são tão patéticos.

O roteiro é péssimo e não me admira porque é tão patético, tem cara de desenho animado oriental vagabundo. O argumento é um lixo, avançando sem lógica ate o ponto que os dois protagonistas se conhecem e em dois minutos estão apaixonados.
Um exemplo é que o E.T. tem um aspecto mais realista que esses dragões e repteis. Não vou mencionar Jurassic Park e King Kong. Mas, apesar de tudo, consegue passar o tempo (melhor que Faustão, Gugu ou Eliana).



Nota 2

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Taxidermia


Pálfi, um dos novos e promissores cineastas húngaros, volta a nos surpreender com seu experimento cinematográfico Taxidermia.

O objetivo de Taxidermia é transgredir, algo que consegue do inicio ao fim. Mas não recorre a isso de forma gratuita.

Trata de romper tabus.

Faz uma critica ao valores da sociedade húngara (e mundial) desde a segunda guerra mundial até nossos dias. Para isso, envolve magistralmente três histórias onde existe uma clara experimentação sobre a utilização de alguns padrões dos gêneros cinematográficos.

Na primeira, expõe um relato que se debate entre a realidade e a ficção, narrado em forma de conto, onde intercala elementos próprios da animação. Na segunda, o relato responde as características de filme histórico-documental. Por ultimo, entra nos caminho da ficção cientifica. De tal forma que rompe primeiramente com os tabus sexuais, critica duramente os valores sociais do comunismo na Hungria e no final manda à merda todos os valores da sociedade contemporânea.

Seu objetivo é provocar.

Com sua atitude de denuncia, incita a reflexão, expondo sem pudores tudo aquilo que não estamos acostumados. Relembra artistas e pensadores como Baudelaire, Flaubert ou Lautrèamont em seu objetivo de criticar a sociedade desde o grotesco até o desagradável,'o proibido'. Legados que retomaram tantos outros artistas do século XX por desmaterializar a arte e criar obras utilizando vísceras, desde Schiele ate Duschamp.

Pálfi, consegue algo difícil nesse filme, o nojento e o sórdido se converte em algo belo e sublime. Mas encontrar alguém que saboreie o repugnante e que saiba ver nele algo bonito não é uma tarefa simples, o normal é encontrar milhares de detratores. Assim que, uma pessoa enganada por uma fotografia ‘à La Jeunet’, que acredita estar frente a um filme de autor, terá que pegar uma sacola de plástico para poder vomitar ao ver tão asqueroso espetáculo, no qual incluem masturbações em cadáveres de animais, automutilações e concursos no qual se disputa quem come mais.

Mas quem aprecia o gore mais fácil e barato, encontrara um produto muito elaborado para seu gosto, inclusive pretensioso, com planos perfeitos para o gênero e simbologias incompreensíveis e gratuitas.

Para ver a beleza nesse filme, terá que ter chorado em Le fabuleux destin d'Amelie Poulain e rido em Bad Taste, ter visto poesia nos anzóis dentro das pessoas em The Isle ou ter em Miike um referencial para o cine moderno.

O filme é intensamente sórdido, sim, mas também imensamente belo em sua asquerosidade, como uma pintura negra de Goya. Ainda que nem todos estão preparados para ver-la, aqui encontra-se uma obra prima; difícil, dura, sórdida, porem uma obra-prima.


Nota 9

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Ha-Buah - The Bubble - A Bolha


A historia de um judeu de Tel Aviv e um palestino de Nablús que se apaixonam em um ponto de controle... Já viram algo assim? ... Talvez mas em outros contextos. Nesse caso em pleno século 21 e mostrando as duas caras da moeda: a dificuldade de ser israelense (vários anos de serviço militar e de ser reservista toda a vida para uma causa questionável) e a de ser palestino (ter que viver como refugiado dentro do próprio país).

O filme é uma homenagem ao amor, a Tel Aviv, aos jovens e a paz.

Muito bem feita, em especial a trilha sonora com Bebel Gilberto e Ivri Lider que é brutalmente e explosivamente boa.

Eytan Fox sempre mostra a realidade da sociedade israelense arriscando-se nas criticas ao seu próprio povo.

A cena de amor entre Noam e Ashraf ao som de “Song to the siren” é de uma delicadeza extrema.

A rave na praia é emblemática.

A cena final do atentado e as frases finais são de amolecer qualquer coração de pedra.


No repeat para escrever a critica Meu grande amor - Lara Fabian



Nota 10

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Salò o le 120 giornate di Sodoma - Salò ou os 120 Dias de Sodoma


Controvertida, nojenta, irreverente e aterrorizante. O filme manda a puta que pariu a aristocracia, a justiça, a política e o clero... Por isso eu amo.

Um grupo representativo de poderes, a decadência do estado fascista italiano, um castelo com seus guardas, seus empregados e seus vícios. Com uma perfeita disciplina militar, junto com uns valores anarquistas se seguido de uma inumerável mistura de calores políticos, uns personagens sinistros (oito no total, quatro homens e quatro mulheres) dão renda solta a suas fantasias obrigando um grupo de adolescentes a satisfazê-los. Neste caminho ate a depravação e a exaltação da dor, pode se intuir que os condenados serão vitimas cúmplices e executores.

O diretor nos faz uma leitura interessante sobre as extremidades do homem. Como o cachorro raivoso que não pode beber água (segundo a lenda, porque ele vê a sua doença e a morte no reflexo da água) e necessita morder, estes homens que não podem beber outra coisa alem de sangue.

Os conhecimentos para o uso de ferramentas alegóricas e o panteão de erotismo que Pasolini desenvolve em toda sua filmografia chegam ao topo nesta obra que sempre coloca um antes e depois pra tudo aquilo que se vê pela primeira vez. Se for assistir a esse filme com o estomago desprevenido, talvez acabe mal. Também não é aconselhável para quem desfruta da narração, já que o desfrute aqui é tão intelectual quanto à profundidade da dor e o sadismo que a alcança o filme.

Porque o desejo absoluto de poder e o desejo da matéria (Porque desejamos, quando já temos tudo e só podemos aspirar a ter coisas nesse mundo) levantam ondas de sangue, onde a coragem e o ínfimo (a dor, o prazer, a vida) se confundem e é nessa confusão onde vive o diabo.

Repugnante? Sim, sem nenhuma duvida.
Verdadeira? Infelizmente, sim
Poder e perversão levada ao extremo.

Nota 8

Superbad - É Hoje





Uma das comedias mais engraçadas que vi.

Três personagens da vida, cada um com seu estilo, que fazem seus personagens tão saudosos.

Possui os diálogos mais engenhosos da comedia americana, isto misturado com situações irrisórias e personagens bem elaborados.

Tem que assistir, é difícil alguém ficar quase duas horas sentado numa poltrona e se contorcendo de dar risadas. É um filme para jovens e feita por jovens, talvez por isso que os filme para jovens falham, porque são feitos por quase quarentões. Mas se você não for jovem, não tem problema, por que... Quem nunca desenhou pênis nos cadernos? Como eram nossas conversas com colegas? Sexo, sexo, sexo, por todos os lados. Nisso acerta o filme na maneira de expor, me identifiquei com algum dos personagens, os diálogos hilariantes e o Mclovin.

Muito mais que as motivações que um adolescente tem como o álcool e o sexo, o filme trata de forma realista e com personagens com personalidade bem desenhada, nesse momento da vida que não apenas damos conta que crescemos, amadurecemos e temos a obrigação de construir o alicerce de nossa vida adulta deixando atrás os amigos de toda vida que tantas coisas compartilhamos juntos.

Por Deus, ninguém fode uma torta de maçã, ninguém introduz o pênis num buraco do vestiário feminino, ninguém entra numa casa com uma moto... Mas as situações que vivem o trio central já aconteceram ou pode acontecer com todos.
Nos anos 80 tínhamos Ferris Bueller, agora temos Mclovin.

O cinema deu um passo a mais no gênero com esse delicioso filme.

Quanto à homossexualidade que alguns apontam não existe, é apenas amizade fraterna, amizade de alma, amizade verdadeira e de irmãos que poucos chegam a ter ou pelo menos conhecer.

Nota 9.5

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Lions For Lambs - Leões e Cordeiros




Assistindo a esse filme tenho a sensação que algo esta mudando em algumas coisas e na forma de contar essas coisas, poderíamos estar assistindo a um documentário político ou ate mesmo o momento partidário obrigatório para o povo norte americano.

Três historias cheias de excessos verborrágicos, tão brilhantes quanto desnecessário. As três historias tem pontos de vista diferentes: o político e a televisão, o social e a rua, e o militar.

Na primeira Cruise interpreta um político arrogante do partido republicano entrevistado por uma jornalista que tem muitas duvidas sobre a existência de tropas americanas em determinados países. Tom muda o discurso de nascido em quatro de julho e aqui tenta convencer que é necessário enviar contingente militar pra a segurança do povo americano.

Na segunda Redford, interpreta um professor numa conversa com um aluno desmotivado; em um discurso que permeia o absurdo com contradições que também mostrar um ufanismo que em certos momentos sejam entendido somente pelos próprio snorte americanos.
Na terceira, soldados tentam sobreviver aos ataques dos talibãs, no que parece se tratar de ressaltar a amizade e novamente o patriotismo (essa parte do filme é totalmente desnecessária).

Talvez Redford tentasse fazer um filme minimalista, às vezes às simplificações ajudam a compreensão de um problema, mas neste caso para mim, ficou muito simplória. Boa intenção ate diria que inocente (falta algo no filme, garra ou coragem). Que apesar de tudo, passa uma mensagem de esperança baseando-se numa idéia muito norte americana e pouco real.

Talvez minha visão seja demasiadamente incendiaria, sem nenhuma esperança. Mas colocar problemas sem solução?

Melhor criticar de verdade ao ficar pela metade.


Quer um filme político? Assista todos do Michael Morre

Quer um filme americano ufanista? Assista Varsity Blues, esta recheado de gente linda


nota 5

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Shoot' Em Up - Mandando Balas




Shoot’ em up é mais que um filme violento.

Em algumas partes recordei de Visitor Q de Miike; algo esta mudando em nosso consciente coletivo e filmes como esse flertam sobre o caminho que estamos seguindo.

Desde o primeiro momento se nota que, o filme é altamente simbólico, como nossos sonhos: a violência desaforada, pega você pela beleza da perversão.

O filme alem de ser um entretenimento louco, oculta varias mensagens; que os homens como o protagonista que somente se sabe o nome, Smith, tem uma grande ira acumulada pelos fatos do passado e que vai revelando conforme assistimos a trama. Em 01h20min de balas e mais balas, fala sobre o poder da mulher nesse mundo e como o homem necessita em algum momento de sua vida necessita da ajuda da mulher. Por exemplo, o homem é uma cadeira, mas o que necessita uma cadeira pra funcionar como tal? Um suporte, e suporte as mulheres lhe da, agora a decisão de usar esse suporte é do homem, de como ele vai trabalhar com isso. Aqui, o suporte é uma prostituta que por $5.000, aceita a encomenda (cuidar de um bebe como se fosse seu), mas ela não faz pelo dinheiro e sim pela chamada ‘natureza humana’. Este casal vivera estranhas e incríveis aventuras, onde se vê como um homem poderoso com um revolver na mão pode cair com uma simples chamada da esposa no celular.

Sei que essas simples mensagens (a paternidade, a responsabilidade do homem pelos seus atos, a forma do homem render-se tão facilmente por uma mulher) não é fácil de notar, mas se prestamos a devida atenção o filme toma outro rumo (presta atenção no Smith no parque), outra cor e muda de simples balas a algo mais filosófico, mais complexo. Do meu ponto de vista, fala sobre o poder que a mulher exerce nos homens, a questão esta em que todo o poder da mulher não é aproveitado, já que se a mulher utilizasse todo esse potencial, o mundo que nós conhecemos seria bem diferente. Acredito ainda, que fala sobre o inconsciente (o homem) e o subconsciente (a mulher). O Sr. Smith e Donna, na Itália ‘Donna’ são as mulheres.

Para resumir, não é apenas um simples entretenimento, se assistimos de uma maneira plana. Se dermos a volta, o filme atravessa as balas, armas, tiros e perseguições tudo isso tomado como brincadeira e levado ao ridículo a enésima potencia, com personagens perfeitamente definidos e cenas chamativas, vocês assistiram a um diferente filme.


Nota 9

terça-feira, 6 de novembro de 2007

The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford - O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford


Inconsistência narrativa, pretensões descomunais e somente algumas partes satisfatórias, minimalismo frívolo e vão... Falarão do tédio, de intermitências.
Tudo isso pode ser perfeitamente válido e justificado. Não posso dizer que estão errados quem opinem tais coisas.

Mas eu fico com o bom: fico com as três horas que se devoram, com um detalhe na planificação das cenas que quase chega ao orgasmo para aqueles preocupados na composição dos planos, o tempo triste, as cenas pausadas, serena, áridas... Os rostos e a fotografia; o céu e o vestuário.

É um filme sobre Bob Ford e não Jesse James; conta o que passa na cabeça dos personagens (inveja, admiração, ânsia de gloria, humilhação... por parte de Ford. Desvarios por parte de James), não conta roubos ou assassinatos (isso Walter Hill já fez); não nos da uma versão maniqueísta da lenda (isso Fritz Lang já nos deu).

Narrar um western através de tempos mortos é, ademais de arriscado, uma mostra de valentia e compromisso, de convicção e confiança, sobretudo de confiança no espectador. Portanto trata o espectador de igual pra igual, que explica mais uma vez o que nossos olhares e gestos pediram que contassem mais uma vez, mas agora pelo lado de dentro, desde o instável psicológico de um dos personagens torturado e maltratado; desde as nuvens interpondo-se mediante sombras proféticas entre o sol e o trigo.

Sobra grande parte das peripécias ao restante do grupo? Nem prestei atenção... Com esse final, com esse James claudicando, vencido pela paranóia; esse James cansado de dormir sem dormir, agarrado ao revolver com gravetos secos no lugar dos dedos, olhando através de pálpebras sem cor. Com esse Ford marcado pra sempre pela covardia de um ato, de apenas um segundo (o pulso de Dominik na cena do assassinato é espetacular).

O mito de Jesse James é triste e frio; a covardia de Ford é quente e humana. Mas ambos protagonistas, com seus olhares, seus rostos sem maquiagem e seus gestos, expressam com dignidade o destino dos personagens. Um destino marcado a fogo.
Affleck corre o risco de levar o prêmio de coadjuvante.
A voz em desligado, aqui tem um perfeito equilíbrio entre a narração cinematográfica e a reconstrução quase documental, ambas as coisas se encaixam e hipnotizam.


Nota 9

Michael Clayton


É um filme às vezes intrigante e às vezes aborrecido, novo exercício de Clooney para reivindicar-se como bom ator, mas ainda não consegue evitar que seu rosto ocupe todo o cartaz do filme buscando vender o filme a um publico maior.
Aqui se cozinha um novo filme sobre a integridade e a responsabilidade de fazer o correto frente à corrupção no complexo mundo da advocacia e as empresas modernas. O diretor, Tony Gilroy, tem meu respeito pelos roteiros da trilogia Bourne, mas na realização aqui esta um tanto desequilibrado, falta costurar algumas intrigas, dar umas pinceladas de sabedoria como no chato O Bom Pastor (preciso terminar de ver esse filme).
Clooney trata de adaptar-se ao seu papel de pseudo fracassado (não é advogado, nem policial), mas tem a pose de um Don Juan e acredita em seus papéis. Trabalho duplo que Clooney salvou em diversas ocasiões.
Tem que afiar bem os ouvidos e geralmente todos os sentidos, porque Michael Clayton, sim exige do espectador concentração. Mas nada de queimar neurônios.


Nota 6